Luz absoluta no nosso tempo e espaço geográfico, Jonathan Saldanha tem demonstrado a existência de sub-mundos à música exploratória nacional. Universos paralelos em que a eletrónica e o dub se mesclam em direção a estranhos rituais digitais. No papel de fundador dos HHY & The Macumbas visionou uma incrível fanfarra diabólica, onde as percursões e os sopros seriam reis num inebriante festim rítmico. No projecto HHY & The Kampala Unit, Saldanha junta-se à trompetista Florence Lugemwa e ao baterista Sekelembele, numa ligação umbilical com alguma da mais ousada criação sonora africana do momento.
Foi com o carimbo da Nyege Nyege, muito celebrada editora do Uganda, que a residência de Saldanha no país resultou nesta colaboração cósmica. Lithium Blast respira a exercícios ancestrais sintonizados com a crueza e hipnose da eletrónica mestiça dos subúrbios. Batidas secas e intercaladas, sintetizadores derretidos de cor e uma direção jazzística na forma, mas bem além de formalismos no seu espírito. A viagem não deixa de soar psicadélica nos labiríntos em que se mete, nas resoluções que encontra ou nas pistas que deixa. Uma orquestra do apocalipse que surge em cenários pós-footwork, entre melodias quebradas e kalimbas endiabradas, e outras paragens sonoras por definir. A espaços, recorda a toada cerimonial do produtor britânico Shackleton, embora aqui com os olhos menos virados para o espaço sideral e mais enfocados na natureza primitiva das coisas.
Um trio repleto de stamina sim, mas que não esquece igualmente a necessidade de catarse interna. Repleto de insights possíveis à nova música urbana, os HHY & The Kampala Unit sacam fogo da pedra e lançam trovões nos céus mais escuros. NA