Dificilmente haveria outra personagem mais singular neste ano corrente senão Alex Cameron. Quem é e para onde vai, ninguém saberá ao certo. Mas como qualquer bom enigma, a linha entre o desconhecido e a fantasia é aquela que cose a sua natureza. Anacrónico na sua aparência e mordaz na sua escrita de canções, ele é um magnífico marginal que tornou a electro pop um lugar imensamente mais cativante. Um feito valioso e até necessário.
“Jumping the Shark” é, em vários sentidos, uma estreia auspiciosa. Um álbum que resume a sua experiência própria no universo da indústria discográfica enquanto membro dos Seekae e na pele de outras vidas paralelas. Poderia soar politicamente incorrecto, na mensagem ou no retrato, mas nem por um segundo se atreve a enveredar por essa dialéctica. Opta antes pelo cântico de barítono em estado de decadência glamorosa, um contador de histórias de bastidores que faz do balcão de um bar mal afamado, e a más horas, um palco improvisado. Há algo de humorístico, quase de ridículo, no modo consciente com que Alex Cameron se autoretrata nessa imagem frequentemente percepcionada. Seja na simplicidade inquietante nos seus vídeos musicais ou pelo peculiar gosto estético com que apresenta os seus canais oficiais (como o website que mantém). A celebração da falha e do insucesso parece um resultado final atingido. Afinal é em redor dessa ideia que dispõe alter-egos e discursos vividos, escutados ou imaginados. Reconhecer e realçar as imperfeições da realidade em seu proveito é um acto de magia que, em definitivo,’Mr. Showbiz’ possui e sabe partilhar.
É com equipamento básico como sintetizadores, caixas de ritmo e microfone (com guitarra ocasional) que faz rolar o seu espectáculo de cabaret pop vagamente Lynchiano. Está lá o magnetismo dos Suicide, a eficácia melódica dos Human League e ainda a febre surreal que tão bem contamina os gostos de Ariel Pink ou John Maus. Todavia, onde noutros casos a exploração sónica e a complexidade material dominam a abordagem, em Cameron é nos detalhes simples e na bizarria natural da sua expressão que se inventa. Ao longo de “Jumping the Shark”, há espaço suficiente para estados extremos como o êxtase e contemplação. Apela à dança em pista vazia com travo amargo e copo vazio na mão em simultâneo que puxa o gel ao cabelo antes de uma última análise ao espelho. E estala o dedo e faz surgir luz quando nada nem ninguém o fazia prever. “They say the kids don’t want to see an old dog singing and dance”, confessa, em tom irónico, num dos seus momentos mais simbólicos.
Lisboa é uma das poucas cidades por onde passará a digressão de apresentação do recente “Jumping the Shark”. Depois de esgotar o prestigiado Cafe Oto, em Londres, na companhia de R. Stevie Moore, ter partilhado palco com Angel Olsen ou Mac Demarco e resgatado elogios por parte de Henry Rollins, a ZDB prepara agora a vinda do mais notável showman de serviço. NA