Residência Artística
É uma das mais surpreendentes colaborações nos últimos tempos. Pela aparente polaridade de linguagens e personas, mas, acima de tudo, pelo encontro – e descoberta – de um exótico território comum. Daniel Blumberg é figura omnipresente no afamado Café OTO, em Londres, casa para toda uma comunidade de criadores e espectadores de música exploratória na capital inglesa. É nesta base onde muito do seu trabalho tem surgido, sob várias formas e designações, a solo ou acompanhado. Dele brota uma lírica brutalmente crua e honesta. Abraça a composição e a improvisação, em semelhante proporção, num talento que arde a fogo lento. É assim que se podem descrever as suas actuações únicas, frequentemente a piano ou guitarra, com uma sensibilidade latente. E são de facto únicas, pois Blumberg defende que a música ao vivo tem de ser exactamente isso: vivida, irrepetível.
Quanto a Elvin Brandhi, é uma jovem artista que toma igualmente a intensidade do momento como salto para algo maior. Coteja com Blumberg no sentido em que explode onde o outro implode. A erupção da voz, o ruído da electricidade e o ritmo maquinal são elementares quer no seu projecto Yeah You (ao lado do seu pai), quer enquanto Villaelvin (que assinou este ano um fortíssimo disco para a editora Nyege Nyege). A expressividade performativa com que se entrega, torna tudo mais urgente, fresco e vital.
Estas duas forças encontram uma união cósmica em Bahk. Um perfeito equilíbrio de naturezas, de complementaridade e inovação. No vídeo de “We Never Landed” experiencia-se um fluxo de consciência, catapultando-nos para uma esfera féerica. Genuína simbiose de imagens e sons, percepções e ilusões, traduzida num mantra introspectivo e balsâmico – intemporal, se desejarem. NA