Não é difícil ser-se consensual nas opiniões sobre Gabriel Ferrandini. É até natural, diríamos, tão natural quanto as expectativas que se vão dissertando sobre o futuro percurso do baterista. Os críticos nacionais – e internacionais idem – rendem-se às suas baquetas e ao desenho do som para o qual transporta quem o ouve. “O futuro espera-o”, escreve Rui Eduardo Paes na jazz.pt. Gonçalo Correia, no Observador, arrisca até que “nem o free-jazz consegue domesticar Ferrandini”. Nuno Catarino, na crítica a Volúpias (Clean Feed, 2019) para o Bodyspace, remata sem hesitar logo na primeira linha: Gabriel Ferrandini é uma das grandes figuras nacionais da música improvisada do século XXI.
A convite da Galeria Zé dos Bois, Ferrandini levou a cabo “Volúpia das Cinzas”, uma residência artística composta por seis apresentações ao vivo e que teve como objetivo proporcionar condições para que desenvolvesse a sua composição. Nos concertos, Ferrandini ladeou-se por Pedro Sousa, no saxofone tenor, e Hernâni Faustino, no contrabaixo, habituais colaboradores do músico e por quem também viria a ser acompanhado em Volúpias, disco que acabaria por ser peça resultante dessa residência, embora não imediata. Das gravações resultantes das apresentações públicas da residência viria a filtrar temas e a regravá-los num retiro de três dias algures no Alentejo. Volúpias nascia assim, das cinzas de uma residência e fruto de um desafio a uma ainda maior libertação jazz, com Ferrandini a assumir-se como compositor integral dos nove temas do disco que marca o início da sua carreira em nome próprio.
Apresentado pela primeira vez ao vivo na Culturgest, em Setembro de 2019, a estreia em palco de Volúpias juntou-o ao pianista e compositor alemão Alexander von Schlippenbach e, claro, a Sousa e Faustino.
Ferrandini nasceu nos Estados Unidos, é filho de pai moçambicano e mãe com descendência brasileira, italiana e espanhola. Nos temas de Volúpias, atribui os nomes das ruas que fazia de casa até à Galeria Zé dos Bois durante o período de residência. Na música, ao contrário da sua história de vida ou da geografia pessoal que quis deixar no disco, é-nos evidente: não existem fronteiras para um músico como este.