O trabalho de Tiago, assente na prática do actor, distingue-se por generosidade e despojamento. A capacidade de gerar e manipular estados inquietantes de emoção coloca-nos perante a experiência teatral na sua essência. ‘Olá, Eu sou o Pai Natal’ parte de um retrato individual – que nos comove através da partilha de angústias e preocupações privadas – para alcançar uma reflexão sobre questões mais globais, como a dádiva e a economia na sociedade, e o comércio em jogo no acto performativo.
“Olá. Eu sou o Pai Natal. Eu sou uma pessoa. Há quem não saiba. E acredite em histórias que se contam sobre mim. Mas eu sou um homem. Normal. Que é real. Que está vivo na realidade. E fabrica os presentes e vai mesmo a casa das pessoas no natal. E isto é importante. Os presentes são mesmo presentes. Presentes que aparecem na árvore de natal. À meia-noite, de um momento para o outro. De repente, a árvore fica rodeada de presentes. Aparecem. É uma coisa formidável. São presentes impossíveis. Presentes do Pai Natal que ninguém viu nem sabe quem é. Nem como nem porquê, oferece aqueles presentes todos. São ofertas de ninguém. De alguém a quem não se agradece. Nem se dá presentes. Alguém que se esquece no momento em que os presentes aparecem. E que logo a seguir ao natal é reduzido a lenda. Eu sou a lenda. Olá. A lenda que oferece presentes. Para com uma lenda ninguém tem dívidas. Sobretudo dívidas incomensuráveis. A lenda ninguém pensa em conhecer. Não se pode encarar. Pode quando muito ser contada. Por isso é que não posso parar de falar. Nem de aparecer. Para contar a lenda que não sou. Eu sou o Pai Natal. Olá!”