Como um báu de memorabilia valiosa, o quarteto de Boston detém o melhor do que se pode esperar. Ainda que sem idade suficiente para recolher essa matéria durante a sua nascente, os Quilt souberam replantar, segundo o seu gosto, boa parte da cultura musical entre as décadas de 60s e 70s. Todos concordarão terem sido tempos de plenitude criativa onde a pop e o rock ocidental conheceram um desenvolvimento inédito. Algures no meio, a aurora do psicadelismo despoletou novas expressões e formas. Angus MacLise sai dos The Velvet Underground para uma profunda viagem a outros mundos, Brian Wilson encontra a eterna poção mágica e os The Beatles aterram noutras dimensões em ‘The White Album’. Estes e outros episódios marcantes entram certamente na consciência colectiva da banda de Anna Fox Rochinski que com três sólidos discos continuam a dar-nos motivos para segui-los passo a passo.
Felizmente o raio temporal abraçado pelos Quilt nunca se rege pelo fetichismo de uma época em concreto e com essa posição advêm grandes feitos. ‘Plaza’ talvez seja o conjunto de canções mais inspiradas até à data, onde os apontamentos sonhadores do shoegaze se enlaçam com arranjos característicos da folk inglesa e o espírito mod espreita por cima do ombro deste corpo esguio e seguro de si mesmo. Sedutor como sabe ser, o disco com a chancela da influente Mexican Summer tem somado críticas fervorosas, surpreendendo até aqueles que os vinham a acompanhar desde o primeiro experimento homónimo. De facto, já aí possuíam uma sabedoria nata de como se relacionarem com as suas referências sem a entrega à miserabilidade de um tributo. Sempre houve mais intenção, trabalho e paixão que isso – e talvez por essa razão chegam a esta terceira fase com uma vivacidade e pertinência não tão vulgares quanto se possa imaginar.
A sonoridade dos Quilt segue a sua expansão natural, conectados com o passado sim, mas observando em redor os objectos do seu momento. As guitarras cristalinas, os teclados coloridos e a pandeireta como ritmo sub-consciente, e no entanto essencial, fazem pulsar essa marcha abençoada pela ocasional reverbação dos pedais e pelos coros vocais intocáveis. Há imensa coisa certa a decorrer por aqui, independentemente dos seus percursos. Poderiam ser – e são, embora ninguém o saiba – a banda ideal para um festival de verão realmente atento ao que passa. Porém, nesta noite as quatro paredes do Aquário darão lugar a uma planície imaginária banhada por uma lagoa e um céu de cores esborratadas. Haverá algo mais a pedir? NA