E em 2017, em Portugal, o rock permanece uma linguagem musical viva e animada pela dedicação e pelo gosto de muitos. Discos, bandas, concertos e canções continuam aparecer naquela justa e alegre indiferença a presságios e profecias. Nesta realidade, efusiva e plural, que participam, entre outros, João Pimenta (bateria,voz), Pedro Pestana (guitarra) e André Couto (baixo), trio conhecido, publicamente, como 10 000 Russos. Há dois anos, a banda do Porto ofereceu-nos o seu álbum de estreia, no qual explorava, com tensão e delicadeza, as formas do psicadelismo. Silêncio, distorção, ritmo e espaço eram palavras que davam sentido a esse trabalho e continuam pertinentes no acolhimento de Distress Distress.
No novo disco do trio, manifestam-se uma maturidade afiada por meses de estrada e, sobretudo, uma sofisticação que expande o mundo musical dos 10 000 Russos. Isto não significa que se tenham domesticado ou perdido numa miríade de referências. Muito pelo contrário. O que acontece é que o rock da banda percorre agora, livremente, outros veios, avança com energia sobre territórios esteticamente distantes. Ouçam “Europa Kaput”, tema de catarse, a evocar o tribalismo dos Savage Republic, ou o sombrio minimalismo funk que se insinua em “ISM”. São momentos notáveis de um disco que culmina em “Radio 1” e em “Distress”, com o rock psicadélico a renovar-se numa redescoberta da sua história e na cumplicidade com narrativas de outros géneros. Não se trata de mero exercício revisionista. Há em cada tema de Distress Distress uma atenção ao rimo, ao feedback, à repetição, ao reverb que solicita do ouvinte um estar à escuta. Sempre na companhia da vibração do rock. Eis o que este concerto promete sobre a liberdade dos 10 000 Russos. JM