Ícone maior na esfera do rock mais desalinhado, Kim Gordon, para sempre baixista e vocalista dos Sonic Youth, é igualmente conhecida pelas inúmeras colaborações que tem registado. Free Kitten, Harry Crews ou Mirror/Dash têm sido algumas das denominações paralelas com músicos exteriores à sua banda oficial. Uma lógica de colaborações desde cedo alimentada e que há cerca de dois anos gerou os Body/Head. Ao lado do guitarrista Bill Nace, nome crescente na cena musical exploratória, – com currículo junto de Joe McPhee, Thurston Moore, Chris Corsano ou Bill Orcutt – cria um fervilhante viveiro punk a céu aberto. Apresentam-se a um público mais vasto, através do álbum ‘Coming Apart’, editado há apenas semanas pela histórica Matador. Resultado de um rendez-vous titânico essencialmente sustentado por canções fragmentadas e atmosferas espaciais. Unidas pela força motriz da electricidade, as prestações de Gordon e Nace guiam-se por uma génese peculiar, quase recorrente à filosofia oriental de complemento universal. Sobre isto explicavam numa recente entrevista, em tom informal, que este projecto poderá ser entendido de um ponto de vista físico e intelectual; ‘Body’ na perspectiva de uma livre expressão dos sons e ‘Head’ no que respeita às ideias de cada um dos seus intervenientes. Interpretações à parte, ‘Coming Apart’ é definitivamente um disco de possibilidades, de buscas e de descobertas. Não será, pois, de estranhar que a improvisação se assuma aqui enquanto factor basilar. Tal liberdade criativa não seria exequível de outra forma e cada peça do disco expõe a maravilha que é construir algo no momento, deixando-a interagir e desenvolver com factores externos (ou nem tanto) como o silêncio. Como se imaginará, nada disto faz mais sentido senão mesmo em pleno palco, frente a frente com a audiência e oferecendo uma partilha irrepetível.
