Com uma geografia suburbana bem impressa no seu nome, em ‘Circunvalação’ – nome do seu segundo EP – e naquela atitude que faz do mundano um espaço imagético para a exaltação e urgência das canções, este trio de Rio Tinto apresenta na ZDB o seu álbum de estreia – Linhas de Baixo – como quem faz frente ao torpor pela sua via mais libertadora. De uma honestidade desarmante na forma e no conteúdo, foram alavancando o garage à força de verdadeiros hinos ao desenrasque e à vivência dos subúrbios como ‘O Cabeçudo’ ou ‘Lenny’ para darem agora novo passo de afirmação de identidade a testemunhar em primeira mão depois da devastação que foi aquela noite no Aquário com The Sunflowers e Moon Preachers.
Deixando de lado a tacanhez e anacronismo do garage mais revisionista e truncado, apontam em direcções que tanto se fazem do estertor punk de ‘Cordoaria’ ou ‘Cru’, da circularidade quase psicadélica de ‘Eclipse’, do balanço de ‘Miúdos Muito Jovens’ e de um langor ora ternurento (Preguiça) ora desencantado (Cedofeita) com uma convicção e enfoque inabaláveis. Distorção, lirismo de rua e refrões infecciosos, na linha daquele rock estrepitoso sempre contundente de gente como os Sic Alps, The Strange Boys, Thee Oh Sees e armada da De Stilj e que tem vindo a ganhar uma energia vital através muitos putos deste país – dos Panado a Putas Bêbadas – a desenvencilharem-se do tédio em canções de celebração, suor e entrega. BS