Na história do rock encontram-se grandes bandas, grupos muito influentes com discografias extensas e importantes. Bem como músicos fabulosos que só gravaram um disco, feito com que lhes permitiu escaparem ao oblívio. E depois existem os Stooges e os Black Sabbath, fundadores de linhagens, genealogias, géneros; duas bandas que, nas suas épocas (muito próximas, diga-se), nunca venderam muitos discos, nem foram (verdadeiramente) amadas pela crítica. Que importa, se a sua influência é, hoje inelutável? Se nos deixaram obras-primas? Tome-se o exemplo da banda de Birmingham. Tem pelo menos cinco álbuns perfeitos. Perfeitos quer dizer: absolutamente certeiros, equilibrados, elegantes. Como? Não se trata de uma banda de Heavy-Metal? Sem dúvidas, mas a busca da harmonia, o cuidado com a composição das canções e a integração proporcionada dos sons são traços fundamentais desses discos, mormente, do fabuloso Paranoid. Álbum inspirado nas sombras e na violência da adolescência (tardia) exige uma reverência que poucos imaginavam em 1970. O seu classicismo e exemplaridade permanecem imaculados e, na verdade, redobram sempre que um novo disco de metal é lançado. Por isto tudo, as expectativas criadas pela troupe dos Acid Mothers Temple são enormes. Não são músicos estranhos a citações ou a homenagens, muito pelo contrário: a sua obra tem sido um imenso e sentido palimpsesto musical sobre os anos 60 e 70 do século passado (da folk inglesa ao krautrock, passando pelos King Crimson e Blue Cheer). Mas reinterpretar, com outros instrumentos e outra sensibilidade, o glam de Paranoid é tarefa gigantesca e, acrescente-se, muito venturosa. Porque se há gente com arcabouço para tal são estes japoneses de Tóquio. Não se assustem: com Kawabata Makoto (guitarra), Tabata Mitsuru (baixo, voz), Higashi Hiroshi (teclados) e Okano Futoshi (bateria) a memória será respeitada e, como deve ser, com um concerto livre, quase anárquico, onde não faltarão humor, improviso, delírios espaciais e riffs, muito riffs. Paranoid Made in Japan. JM