Actos de Amor Perdidos de Tamara Cubas (Uruguai)
Em Março, o NEGÓCIO acolhe a coreógrafa Tamara Cubas, referência da dança contemporânea do Uruguai, que realiza um workshop dirigido a intérpretes e criadores e apresenta a sua peça Actos de Amor Perdidos.
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Actos de Amor Perdidos
Uma peça de dança contemporânea de Tamara Cubas (Uruguai)
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‘Praticar a memória é fazer vibrar o simbolismo das recordações com todo o seu potencial crítico, evitando que a história se esgote na lógica do documento ou monumento, trabalhando para ir mais além do que o arquivo museológico e as comemorações que petrificam e enclausuram o passado.’
Nelly Richard
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Actos de Amor Perdidos propõe um exercício da memória a partir da recompilação de documentos, mitos, recordações e relatos que compõem a história recente do Uruguai. A reapropriação como ferramenta, não para reconstruir os acontecimentos mas para construir narrativas partindo do passado à luz do presente, sem fazer da memória um monumento.
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Tamara Cubas tem desenvolvido um projecto de investigação artística que denomina “La Patria Personal”, onde se foca na temática do álbum familiar através da recompilação e do arquivo de documentos e factos relacionados com a sua família – recordações, representações e ilustrações de acontecimentos e histórias compreendidos entre o período de 1973 e 1985.
A sua família paterna foi vítima de exílio, prisão e desaparecimento forçado durante a ditadura uruguaia, mas apesar de se tratar de uma história dramática, o projecto pretende afastar-se de um discurso de perda e tenta construir narrativas partindo do passado à luz do presente, dos nossos interesses actuais e da nossa necessidade discursiva. Pretende trabalhar com esse passado escapando da monumentalização da memória, porque essa é uma forma de tornar a memória estéril, adormecida; considerando que o excesso de memória congela o passado e impede de detectar novos agentes susceptíveis de provocar situações similares às que se narram.
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“Actos de Amor Perdidos é uma obra performativa que se desprende desse arquivo que construiu, mas não da sua essência e leitura, criando, inclusivamente, outras formulações não cénicas, noutros formatos. Nesta peça optei por incluir em conjunto alguns símbolos nacionais, datas e factos por todos reconhecíveis, conjugados com alguns dados recolhidos junto da minha família. O individual e o colectivo, o público e o privado, a pátria ou a morte são alguns opostos que se tentam posicionar em tensão. Esta obra não pretende contar nem falar de algo mas dialogar com, colocar alguns aspectos em relação.” …Tamara Cubas
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‘A necessidade de reconstruir o quebra-cabeças de uma história inconscientemente vivida induziu a criadora a seguir duas estratégias: recorrer a testemunhos familiares, enquanto levava a cabo uma investigação corporal capaz de gerar imagens – ficções- que a ajudavam a percorrer as caves negras da sua memória, produzindo relatos paralelos à inacessível ‘memória real’. Não se trata de entender a memória como algo global, histórico ou nacional, determinada pela história oficial. Interessa-me insistir no modo como Tamara Cubas se aproximou de uma memória específica, de um tecido de vivências que a conformaram, determinaram a sua experiência de vida, como se tentasse explicitar os sulcos de esquecimentos e projectar a recordação até momentos sacrificiais: “A memória como uma maneira de auto-sacrifício porque para actuar deve admitir os seus limites essenciais perante a realidade”, recorda-nos Horacio González. Os limites da memória perante o real podem indicar espaços privilegiados para a arte quando se trata de representar ou de colaborar com a documentação de ficheiros perdidos. A continuidade da memória constrói-se na realidade irreal, perfeitamente imperfeita e completamente incompleta da arte.’
Ileana Dieguez, Agosto 2010 México.
Com: Tamara Cubas, Luis Cubas, Mirtha Cubas e intérpretes locais
Desenho de Luz: Leticia Skrycky