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Aires ‘Chains of Silver, Chains of Gold’ ⟡ Helena Espvall

qui28.10.2119:00
Galeria Zé dos Bois


© Pedro Januno
© Derek Moench

Aires

Lançamento de Chains of Silver, Chains of Gold

Figura meio omnipresente no circuito musical lisboeta, Aires soma e segue num percurso merecedor de atenção. Além de músico, é um agitador de águas, tendo co-fundado o Colectivo Casa Amarela, entidade editorial com um espólio francamente prometedor de visão. Também faz parte do duo Peak Bleak, lado a lado com Sal Grosso. Esta constância de energia em fluxo materializa-se agora num novo álbum, mais uma peça chave para melhor entender as buscas sonoras de Bruno Pereira enquanto Aires.

Chains of Silver, Chains of Gold parte de um conjunto hipotético de questões: “How many different shades of red there are? How many different drones can one extract from a single melody? Or from a single note? How many colours can one remember from a single memory? How long can a feeling last?”. Tudo inquietações naturais de quem opera sobre momentos capsulados em si, encontrando filigranas e esculpindo o som em diversas escalas e expressões. E Aires tem demonstrado que esse caminho não só é surpreendente, como se trata de algo, aparentemente, infinito – ou, pelo menos, cujo limite se expande a cada vez que se dá mais um passo adiante.

É pela mão da pequena, mas valiosa, editora finlandesa World Canvas, que este disco ganha forma. Composto por duas longas peças, e duas respectivas remisturas, Chains of Silver, Chains of Gold, oferece-nos a sensação de uma libertação lenta, como quem se deixa para trás o peso e a velocidade voraz do quotidiano. Existe uma real dinâmica na aparente luz estática que ilumina as paisagens rochosas desta música. As reinterpretações de Vanity Productions (da igualmente importante Posh Isolation) e de Romance Relic (precisamente da World Canvas), entrelaçam-se numa harmonia familiar, fazendo quase esquecer que estas são assinaturas externas do que antes escutamos. Um quadro completo de encontro e compromisso, capaz de saltar dentro da sua própria tela. NA

Helena Espvall

Nome incontornável na folk mais livre a surgir na primeira década do milénio, teve nos Espers uma das suas encarnações mais celebradas. Com um pé na Suécia e outros nos Estados Unidos, escutámo-la em muitos discos que nessa altura foram certamente formativos para melómanos que viram nesta geração de artistas todo um incrível mundo novo. Ao lado de Fursaxa formou Anahita e marcou presença nos discos inesquecíveis dos Charalambides. Acompanhou igualmente Vashti Bunyan, Marissa Nadler ou Bert Jansch em estúdio e no palco. Um percurso que se estende a outras colaborações nas áreas da improvisação e do experimentalismo internacional, não esquecendo o seu trabalho a solo, sempre pertinente e magnético – ou simplesmente mágico, se assim preferirmos.

Residente em Lisboa nos últimos anos, tem um sido um prazer absoluto vê-la presente em diversos espaços da cidade, mantendo uma participação fervilhante na comunidade local (inclusive fora do âmbito musical). Entre o violoncelo e a guitarra elétrica, encontramos ecos de outros universos e épocas, fazendo uso de linguagem mestiça; linguagem essa que reconhece referências à cultura oriental e ocidental, mas também às explorações acústicas e aos mantras do drone. No fundo, uma espécie de geografia musical imaterializada em constante movimentação. Poderá soar solene sem querer sê-lo, mas a verdade é que Helena Espvall é, sem sombras de dúvida, um pedaço da história contemporânea diante de nós. Uma criadora talentosa e uma figura com uma aguçada curiosidade e inevitável humildade, que de resto distingue os maiores. NA

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