Lançamento de Chains of Silver, Chains of Gold
Figura meio omnipresente no circuito musical lisboeta, Aires soma e segue num percurso merecedor de atenção. Além de músico, é um agitador de águas, tendo co-fundado o Colectivo Casa Amarela, entidade editorial com um espólio francamente prometedor de visão. Também faz parte do duo Peak Bleak, lado a lado com Sal Grosso. Esta constância de energia em fluxo materializa-se agora num novo álbum, mais uma peça chave para melhor entender as buscas sonoras de Bruno Pereira enquanto Aires.
Chains of Silver, Chains of Gold parte de um conjunto hipotético de questões: “How many different shades of red there are? How many different drones can one extract from a single melody? Or from a single note? How many colours can one remember from a single memory? How long can a feeling last?”. Tudo inquietações naturais de quem opera sobre momentos capsulados em si, encontrando filigranas e esculpindo o som em diversas escalas e expressões. E Aires tem demonstrado que esse caminho não só é surpreendente, como se trata de algo, aparentemente, infinito – ou, pelo menos, cujo limite se expande a cada vez que se dá mais um passo adiante.
É pela mão da pequena, mas valiosa, editora finlandesa World Canvas, que este disco ganha forma. Composto por duas longas peças, e duas respectivas remisturas, Chains of Silver, Chains of Gold, oferece-nos a sensação de uma libertação lenta, como quem se deixa para trás o peso e a velocidade voraz do quotidiano. Existe uma real dinâmica na aparente luz estática que ilumina as paisagens rochosas desta música. As reinterpretações de Vanity Productions (da igualmente importante Posh Isolation) e de Romance Relic (precisamente da World Canvas), entrelaçam-se numa harmonia familiar, fazendo quase esquecer que estas são assinaturas externas do que antes escutamos. Um quadro completo de encontro e compromisso, capaz de saltar dentro da sua própria tela. NA