Vivemos tempos fascinantes. Observando em redor, o panorama musical lisboeta não tem cessado de expandir horizontes e de revelar enormes surpresas. Seja pela novidade de espaços, colectivos, colaborações e, claro, pelos criadores. Muita desta fracção pertence a uma nova geração que por entre um misto de persistência e paixão vai cunhando uma posição importante e de valor ainda inestimável para um futuro próximo. Se existe nome a destacar-se nessa turma, Alexandre Rendeiro é definitivamente um deles. Afinal o seu percurso enquanto Alek Rein não é tão recente quanto isso e cinco anos já passaram desde o auspicioso EP ‘Gemini’. Foi por lá que escutámos então um clássico imediato chamado “Ligia”, detentor de um estranho e forte magnestismo apenas presente quando nos encontramos perante algo de facto especial. Agora, a espera por mais material terminou e paira a sensação que 2016 será o ano Alek Rein. Como todo o mérito, diga-se.
Na casa onde já se apresentou no passado, Rendeiro assegurará uma rigorosa apresentação daquele que é o álbum de estreia ‘Mirror Lane’. Como não poderia deixar de ser, traz novos ares em relação às pistas anteriores. Se antes as gravações nasciam de uma estrutura solitária, neste novo capítulo surge rodeado de acompanhantes de luxo. À bateria de Luís Barros, acrescente-se o baixo de Alexandre Fernandes. Esta formação de trio, encabeçada pela voz e guitarra de Rendeiro, incute um brilho inédito ao seu pulsar cancioneiro entretanto já conhecido. Mas a lista de ilustres não se fica pela formação da banda. A gravação do longa duração esteve a cargo de Filipe Sambado (outro ponto essencial neste universo), tendo sido posteriormente misturado por Eduardo Vinhas nos famosos Golden Pony Studios e masterizado por Steven Berson nas salas Total Sonic Media por onde já passaram estrelas como Charles Bradley ou Sharon Jones & The Dap-Kings.
O manto do psicadelismo continua vívido e impregnado de um modo discreto e sempre orgânico como se na verdade não houvesse outra expressão possível. Como tal, descortinam-se inspirações vagamente reconhecíveis em Marc Bolan, Pavement, Syd Barrett, The Strange Boys ou The Beatles. Por aqui emerge uma veia melódica irrequieta que sobressai de forma espontânea em cada composição, independentemente do registo. Do alpendre até à garagem, ‘Mirror Lane’ une também o melhor de dois mundos: o tom confessional da escrita à expressão física da electricidade. A classe com que faz essa união atesta talento e experiência. NA