Em pouco mais de uma década, André Santos criou um currículo musculado, quer em território nacional como internacional. O que torna admirável que, durante esse tempo em que colabora, experimenta, adapta-se e intervenciona o trabalho de diferentes músicas, ainda lhe sobram ideias para ambicionar uma carreira a solo, marcada, até ao momento, por três álbuns, “Ponto de Partida” (2013), “Vitamina D” (2016) e “Embalo” (2022). Nascido no Funchal em 1986, o guitarrista foi influenciado pelo irmão mais velho, Bruno Santos (com quem tem o duo Mano a Mano), que o puxou para a guitarra e percebeu que poderia fazer carreira com o instrumento. Vai daí, inscreve-se no Conservatório da Madeira em 2005 e, no ano seguinte, ruma a Lisboa para entrar no Hot Club.
São inúmeras as colaborações/participações ao longo destes anos, seja o destaque prematuro no quarteto de Ricardo Toscano, as amizades com Salvador Sobral (que colabora no último tema de “Embalo”) e António Zambujo, as cumplicidades com Maria João e Carlos Bica, ou os créditos junto de Carminho, Filipe Melo, João Barradas, Lars Arens ou Rita Redshoes, entre muitos outros. A lista de nomes serve, sobretudo, para enaltecer a versatilidade do guitarrista e a capacidade de acomodar diferentes tempos de jazz ao fim que lhe é proposto. Jazz e não só, por vezes ouvem-se traços de pop, MPB soul ou uma americana muito segura.
Uma série documental sobre gastronomia tradicional, “À Volta da Mesa”, foi o pontapé de saída para a criação de “Embalo”, o último álbum a solo, agora na estrada. Banda-sonora – cada tema está num dos episódios – adornada pelo carinho, amor, calor, de um recém-nascido lá em casa: o título é uma referência a isso mesmo, às noites mal dormidas, ao que se pensa nessas noites e às melodias que nascem para se embalar um bebé. Num país com tanta tradição de guitarras, falta ouvir e conhecer mais André Santos na vertente solitária, uma guitarra jazz que começa a sair da sua casa e que ganha forma em canções esbeltas e generosas. Siga para este embalo. AS