“Os discos de António Zambujo incham. Parecem, um após outro, levar a cabo uma discreta actividade recolectora que vai alargando cada vez mais o espectro da sua música. E isto porque por cada novo elemento que Zambujo recolhe para as suas canções não faz isto: não troca os novos amores pelos antigos, não vai testando aleatoriamente o que encaixa na sua espinha dorsal – feita de fado, música popular portuguesa e cante alentejano -, peneirando depois e deitando fora o que eventualmente não sirva. A lógica não é essa. Em Zambujo não há desperdício; há antes uma ideia de cúmulo, de novas peças que se encaixam num tronco sólido que, por sua vez, se vai tornando mais robusto pouco a pouco. Se ao seu fado rapidamente se lhe juntaram as referências da bossa nova de João Gilberto e do jazz de Chet Baker, contrariando a ideia de que a autenticidade de uma interpretação fadista passa necessariamente por deitar a alma pela boca num canto-refluxo vindo das entranhas, em ‘Quinto’ Zambujo volta a namorar insistemente com estas duas linguagens, contando para isso com as contribuições do cavaquinho de Jon Luz e – no sublime Não vale mais um dia – da guitarra eléctrica de Mário Delgado mais a bateria de Alexandre Frazão. Mas a presença de Luz serve ainda para explorar a ligação à morna cabo-verdiana (Milagrário pessoal, com letra de Agualusa), ao mesmo tempo que o trombone em A casa fechada faz a vénia a um Tom Waits que Zambujo sempre colocou num pedestal. E fá-lo com o mesmo recato e a mesma subtileza que aplica a tudo, tornando a sua música cada vez mais preciosa.” Ípsilon
