APLESTIA
de Pedro Valadares
+ Frannekk
APLESTIA é fruto de uma ideia que emerge no ápice da pandemia, quando ir a um estabelecimento parecia uma experiência quase que apocalíptica. Receber os talões com as mãos encharcadas de álcool e ver acontecer uma reação imediata de queima/degradação do papel desencadeou-me diversas questões, estas que agora se encontram manifestadas nessa aglomeração de recibos, que retratam uma fome social insaciável e tudo aquilo que ela carrega consigo.
– Pedro Valadares
Em uma sociedade no ápice do capitalismo, consideramos a produção e o consumo como dois lados da mesma moeda, assim como na obra aqui mostrada.
Buscando enfatizar a distinção entre uma sociedade marcada pela “produção” – na qual o acesso aos bens de consumo se revela como o principal marcador social – e uma sociedade marcada pelo “consumo” – na qual o acesso a esses bens tem pouco significado e o que se alimenta são novas formas de mediação. Não é apenas nesta perspectiva de gasto ou consumo, que esta obra se encaixa, mas também numa perspectiva temporal. A velocidade com que a arte, o consumo, a vida, se materializam hoje em dia mimetiza uma disrupção temporária metaforicamente retratada na quantidade de papel gasto que se gera com os recibos que aqui ganham uma outra dimensão.
Nas peças de APLESTIA, encontramos telas feitas com recibos de diferentes estabelecimentos, sobre os quais há diferentes retratos de moribundos. Retratos esses que consideram também o consumidor como um moribundo. A transformação de um objeto como o recibo, significante de tudo o que consumimos em uma velocidade exponencialmente crescente, transforma-se aqui no suporte para retratar aqueles que vivem ao lado do consumismo, por vezes sem opção.
A matéria e o suporte têm um grande peso no trabalho de Pedro Valadares e neste caso os retratos são feitos através de queimadas realizadas nos próprios recibos, para dar espaço a esses rostos. Sobre os rastros do consumo são geradas novas cinzas do que o capitalismo considera lixo. Uma degradação contínua que não cessa, mas, nesse caso, é transformada em uma obra de arte.
– Amanda Triano
Pedro Valadares de 22 anos é natural do Rio de Janeiro, Brasil. Iniciou seu trabalho artístico aos 14 anos através da tatuagem. Licenciado em Artes Visuais na Universidade Lusófona de Humanidade e Tecnologias, atualmente busca diferentes meios de expressão através de esculturas e desenhos, onde o material e o suporte utilizados são de extremo valor significativo.
Frannekk seleccionará alguns discos de ambient para acompanhar a exposição de Pedro. Mais tarde, poderá tocar algumas faixas electrónicas para dançar.