Os Aquaparque (Pedro Magina e André Abel) são uma banda que exige pausas, tempo, distância. Há um sentido melodramático na sua música, um excesso de expressão, uma languidez intensa. A atmosfera em que enleiam o ouvinte menos avisado embriaga e sufoca. É música pop, dirão. Dançável, sensual, ambígua, sinuosa.. E é mais do que isso, sobretudo quando a escutamos no silêncio, sem ruído de fundo. Quando estamos preparados para ela. Os sons ganham materialidade e volume, as melodias vertem uma energia seca. E a voz de Pedro Magina soa livre de outras vozes e fantasmas, como simples e forte manifestação de personalidade e estilo. Por estas razões, regressar aos Aquaparque em disco ou ao vivo é (re)descobrir uma grande banda portuguesa que calhou viver em Lisboa e canta em português. Ouçam “Ultra Suave” ou “Para além do Bronze”: irrompem com elegância no quotidiano, como fragmentos de uma soul melancólica. As palavras projectam-se com harmonia e intensidade sobre os instrumentos. Os ritmos desenham-se numa geometria flexível, aberta à repetição e aos intervalos. Os Aquaparque evocam coisas distintas dependendo de quem ouve – Animal Collective, Sade, pop portuguesa e britânica (temporalmente situada na década de 1980), techno, drum and bass, house. Mas as influências estão em sempre em movimento. Não é possível fixá-las. E é nesse processo que nasce a música sedutora, catártica, irresistivelmente “adolescente” do duo que o ano passado assinou “Pintura Moderrna”. A abrir a noite da banda portuguesa, vão estar dois projectos da americana Not Not Fun. Holy Strays, pseudónimo de um misterioso produtor, manipula de forma magistral linhas de baixo e batidas e faz recordar DJ Shadow circa “Entroducing”. Cankun, de Vincent Caylet, sugere outras imagens. Imaginem Sun Araw a fazer música enquanto recupera de uma overdose provocada por “Loveless”, dos My Bloody Valentine. JM
