Arquitecto sonoro dos Gang Gang Dance, Brian DeGraw é um homem de diversas faces e múltiplas vivências. Em meados dos anos 90 esteve ao leme nos The Cranium, uma das mais intensas e esquecidas encarnações do noise punk norte-americano; após a sua dissolução, entregou-se à experimentação audiovisual com o realizador independente Harmony Korine. Esta colaboração tornar-se-ia reveladora de uma abordagem exploratória e absolutamente essencial no processo criativo futuro de Degraw – não apenas enquanto produtor musical como na posição de artista plástico. Essa coabitação entre imagens e sons proporcionou-lhe uma hábil percepção sobre o modo comunicativo e potenciador em que uma parcela exerce na outra, mútua e continuamente. Embora considerado um objecto menor na discografia dos Gang Gang Dance, o DVD ‘Retina Riddim’, de 2007, instituiu de maneira não oficial uma viragem indiscutível na banda cujo EP ‘RAWWAR’ (editado no mesmo ano) clarificou ainda mais o rumo. Depois do primitivismo industrial adornado pela extensa palete de cores globais, a banda chegara então a uma época de plena amálgama urbana. Cenário contaminado pelos ecos das ondas britânicas do grime e suas derivações, assim como a eterna herança difusa da música jamaicana e da música ambiental/kosmiche. BeeDeeGee emerge assim enquanto resolução natural destas coordenadas, usufruindo de uma certa plasticidade pop em que o termo muzak vem espreitando, sem vergonhas, sob o ombro e ceifando espaço para a evocação de tantas paisagens quanto desejadas. Assumidamente ambígeno, mais luminoso e aquoso do que habitual em si, ‘SUM/ONE’, editado o ano passado pela histórica 4AD, traz porém pontos em comum com ‘Saint Dymphna’, última obra dos Gang Gang Dance. Brilha sobretudo pela sua fluidez e como acrescenta rascunhos de um cancioneiro shoegaze ao infindável roteiro extra-musical de DeGraw onde são reconhecíveis exercícios devedores às curvas e contra-curvas da glitch-house ou do footwork. Alexis Taylor (Hot Chip), Lovefoxxx (CSS), Lizzi Bougatsos ou Douglas Armour são de resto os colaboradores vocais de honra num trabalho essencialmente instrumental cuja tónica assenta não tanto no resultado concreto, mas sim na experiência auditiva criada. Em Dezembro passado, BeeDeeGee foi um dos nomes escolhidos por Panda Bear (Animal Collective) para participar durante uma edição da noite Green Ray, na discoteca Lux. Dita a memória que se tratou de uma das actuações mais singulares do evento; misterioso na concepção de espectáculo e insondável na torrentes de sons que ali provocou. Desta vez, e numa ocasião em nome próprio, a margem para explorações inéditas é maior que nunca.
bEEdEEgEE ⟡ Jejuno
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Jejuno
Jejuno, nome artístico de Sara Rafael, portadora de uma electrónica anímica, feita e contrafeita a escassa luz, cria um espaço mental de conteúdo multi-referencial e esparso. Ao chamamento de elementos da cultura popular ou às visões cosmológicas sob o filtro do psicadelismo, acrescente-se a torrente de convulsões e ritmos, dispostos em algum caos organizado de ouvido posto na melodia. Um olhar desfocado, mas convictamente apaixonado, sobre a realidade – e o tudo o que se encontra para além dela. NA