As estações passam e para trás ficam as peles mortas. Neste caso, no caminho já percorrido por Luís Nunes, encontramos o disco The Imaginary Life of Rosemary and Me e a pele de Walter Benjamin, que lá por ser o maior órgão do corpo humano não é o mais difícil de regenerar; mas que envolve esforço e compromisso, lá isso, envolve. Às vezes o desconforto torna-se hábito, e não há nada mais difícil do que desfazer um hábito, pois geralmente procuramos tocar na vida com a parte mais calejada das mãos para evitar grandes dificuldades. Muitas das vezes é isto que está em causa quando em Portugal se canta em inglês. Parece ser por isso que Luís Nunes deixou cair o Walter do seu nome de palco e também a razão pela qual limpou o inglesismo do apelido: agora é somente Benjamim.
Foi com esse nome que acabou de percorrer o país, durante “33 datas non-stop” em Julho e Agosto, para tocar as canções do seu novo álbum, o lusófono e diverso Auto Rádio: em Viseu, na mesma varanda onde discursou Humberto Delgado, o seu concerto esgotou em 48 horas; na última data, na Gafanha da Nazaré, um palco alagado interrompeu-lhe o concerto. Mas durante aqueles 5670 quilómetros de tour, Benjamim, ao lado dos músicos António Vasconcelos Dias, João Correia e Nuno Lucas, concretizou a vontade expressa com a mudança de nome, a de comunicar com aquilo que está mais próximo da sua natureza, a língua com que ouviu as muitas histórias que já lhe contaram e que, por sua vez, não quer deixar esquecidas.
Depois de ter estudado Engenharia de Som em Londres, de ter colaborado, enquanto músico e/ou produtor com vários artistas (B Fachada, Noiserv, They’re Heading West, You Can’t Win Charlie Brown, entre outros), de ter criado o seu próprio estúdio no Alvito e co-fundado a Roman Road Records, o álbum Auto Rádio chega a 18 de Setembro. O concerto oficial de lançamento do disco, já criticado de modo bastante positivo, acontece aqui, no Aquário da Galeria Zé dos Bois, onde se poderão ouvir, entre outras malhas, os já disponibilizados singles Os Teus Passos e Tarrafal. Alexandre Rendeiro