A música num estado volumoso e amplificado como locomotiva para um espaço de tensão constante. Os canadianos Big Brave integram uma cúpula de nomes ímpares no cenário da música experimental contemporânea, apesar das percepções recorrentes ao experimentalismo ruidoso ou até as divagações mais extremas e cruas das paisagens negras do doom. Desde Feral Verdure, disco de estreia editado em 2014, que os Big Brave criam um amplo espaço atmosférico balançado por uma intensidade eléctrica corpulenta, mas também por tempos de serenidade e quase ausência sonora.
A Gaze Among Them não é uma mudança de paradigma no percurso da banda, apesar de a produção ter contado com elementos preciosos para aprofundar as camadas ambientais anexadas aos riffs duros em contraste com as entoações suaves de Robin Wattie. Existe no recente álbum um certo regresso aos pilares originais do conceito Big Brave: espaço, tensão, minimalismo e voz. Uma leve revisitação do trio (Mathieu Ball, guitarra, Robin Wattie, guitarra e voz, Loel Campbell, bateria) às intenções sónicas do passado, com a colaboração de músicos de sessão fundamentais como Thierry Amar (GY!BE, Thee Silver Mt Zion) no contrabaixo e Seth Manchester nos sintetizadores. Apesar da sonoridade arrojada, talvez ousada, dotada de conotações sludge ou doom metal, os Big Brave voltam com um disco encorpado, mas de elegância minimal e acima de tudo catártico. Uma estreia que promete fazer estremecer o palco do aquário, naquela que será, certamente, uma das actuações a não perder em 2022, na ZDB. JH