Banda de bravura no epicentro da música de Montreal no Canadá, Big Brave tem-se aventurado num plano de acção que sem comprometer o peso, a intensidade e o volume não deixa de revelar uma noção de espaço, tensão e vulnerabilidade pouco sentidas numa torrente tão impositiva aos sentidos. Regressado ao palco da ZDB após três anos, na altura em apresentação ao celebrado ‘A Gaze Among Them’, este trio formado por Mathieu Ball na guitarra, Robin Wattie na voz e guitarra e Tasy Hudson na bateria e percussões traz a sua avalanche de riffs repetitivos, feedback, passagens atmosféricas, ritmos marciais e a voz expressiva de Wattie com ‘nature morte’, lançado pela Thrill Jockey, ainda a causar espanto. Casa de respeito que acolheu também ‘Leaving None But Small Birds’ em colaboração com o duo The Body e após uma fértil passagem pela Southern Lord materializada em quatro discos.
Com alguma contenção e sentido de dinâmicas a transpirar desse encontro para este novo disco, Big Brave continua a lapidar uma linguagem bem sua, partindo da lentidão e sufoco de algum Doom mais esotérico deste Século para escavar para fora dessa lama primordial até novos estados mentais e físicos quase impressionistas e de catarse colectiva. Rituais que se suspendem num balanço constante entre a escuridão e a luz, a tensão e a libertação, num minimalismo quase ascético na sua demanda, alimentado pelo clamor tangível da voz de Wattie sobre as cortinas de ruído e percussão. Grandioso mas também delicado, de forma meio inimaginável mas plenamente sentida. BS