Não seria necessário exigir muito da imaginação para fazer um paralelo entre o binómio Cave/Bitchin Bajas e essoutro mais remoto de Neu!/Harmonia. A banda de Chicago onde Cooper Crain, o nome por trás da entidade Bitchin Bajas, também milita é conhecida por ter recuperado para o presente um certo pulsar metronómico devedor das lições escondidas no som propulsivo dos Neu! O krautrock é, sem dúvida, um dos dialectos que essa banda adoptou e por isso pode olhar-se para Bitchin Bajas como o desvio algo new age que Michael Rother, também guitarrista, encenou com a aventura Harmonia, que criou com os companheiros Moebius e Roedelius (os Cluster).
Mas a comparação serve apenas propósitos de localização estética. Bitchin Bajas, como de resto os Cave, têm lançado através da Drag City, reputada editora que é também a casa perfeita para estes projectos, dado que o seu catálogo tem vistas desafogadas e percorre sem grandes problemas a distância que separa as paisagens motorik das autoestradas das deambulações cósmicas new age que Cooper Crain explora nessas duas células paralelas.
Para o concerto na ZDB, no entanto, importa Bitchin Bajas: trio com Cooper Crainor em orgão eléctrico e sintetizador, Daniel Quinlivan em sintetizador e demais electrónica e Rob Frye em flauta, saxofone tenor e ainda mais um sintetizador. Electrónica e sopros. Cosmos e natureza. Os dois grandes destinos das derivas new age que entre finais dos anos 70 e meados dos anos 80 tomaram conta da imaginação de muitos filhos da geração hippie que perceberam que um sintetizador, um gravador e algumas cassetes poderiam traduzir a utopia que continuavam a ouvir dentro das suas cabeças.
Nos últimos cinco anos, os Bitchin Bajas exploraram essa moldura sónica e espiritual, acrescentando pós de jazz e ecos de mundo aos exercícios que espalharam por uma generosa discografia, de que o título mais recente é Autoimaginary, disco dividido com outra célula criativa de Chicago, os Natural Information Society de Joshua Abrams. A Pitchfork descreveu a música de Bitchin Bajas neste trabalho como “repetitiva, mas subtilmente atravessada por mudanças de cenário e mutações”. Ou seja, a fórmula perfeita para a meditação, para o sonho, acordado ou não, para a projecção astral noutro plano. Para todos fazermos de conta que a ZDB, por uma noite, fica dentro de uma enorme pirâmide de cristal, a flutuar algures sobre um canyon. RMA