Ao vivo. Eis uma expressão ou uma verdade cara aos Black Bombaim, ou não a fosse a música do trio de Barcelos irredutível a reificações. Como o melhor rock (Mudhoney, Jimi Hendrix, Cheer, Kuyss), assalta ao mesmo tempo o corpo e o espírito. Levita e cai. Faz-nos correr e entorpece. Isto porque o domínio da arte da distorção, do feedback, o talento para suspender e libertar a tensão resplandecem, agigantam-se, (quais Titãs) nas mãos de Ricardo (guitarra), Tójó, (baixo) e Senra (bateria). Ou seja: os Black Bombaim são uma banda sempre pronta a derrubar (mais uma vez) o mito tão teimoso quanto idiota, de que o rock é género ou prática de alarves. Não, o rock (sem roll) é (e sempre foi) apenas música dos desarranjados, dos marginais, velhos ou jovens. E hoje mais do que nunca, pois o glamour de outros tempos já se foi. O que resta então? Uma energia sempre aberta às reactivações da memória, com imagens e sons que se transformam em histórias. Quem ouviu o novo disco desta banda, deu de caras com o saxofone solitário de Steve Mackay, com a voz de Adolfo Luxuria Canibal, com celebrações do krautrock. Ouviu um caleidoscópio sonoro, em frémito constante, imprevisível. Nesta noite, ele repetir-se-á para recordar as palavras do grande crítico de rock Lester Bangs: minimalismo, volume, abandono, volúpia. Stooges? Não, isto é: Black Bombaim, ao vivo. JM
