Riffs, densidade e leveza. A música dos Black Bombaim (Ricardo Miranda na guitarra, Tojo Rodrigues no baixo e Paulo Gonçalves na bateria) faz-se com estes elementos. Não é, nem será a única, mas o trio de Barcelos tem um talento muito particular para juntar sonoridades à partida pouco solúveis. Rock pesado e ruidoso, de pés no chão, de um lado, libertação de limites ou formas convencionais, do outro. Terra e água. Ritmos reconhecíveis de todo um repertório histórico da música popular, mas nunca sou fixos. O rock dos Black Bombaim está sempre em movimento, como uma stream of consciounsness ou uma alucinação colorida cuja descrição não destoaria num livro de J.G. Ballard. É música que entorpece e excita e nunca esteve tão bonita como em ‘Far Out’ o novo e quarto disco que será apresentado nesta noite pela primeira vez ao público. Os dois convidados do quarto álbum dos Black Bombaim, Rodrigo Amado e Astroboy irão, quando chegar a altura, ocupar os lugares respectivos no palco da Galeria Zé dos Bois. Mas apetece dizer algo mais, talvez exagerar ou não. Eles serão membros autênticos, legítimos da banda. É o saxofone de Amado que aquieta a violência das guitarras, sem lhes retirar tensão, mas para lhes restituir mistério, subtileza, espirito. As semelhanças com outros encontros entre as guitarras e o saxofone podiam ser evocadas, e muitas foram frutuosas, mas nesta “encarnação” dos Black Bombaim testemunha-se um caso singular: uma integração discreta e poderosa de um instrumento “inédito”, integração que se repete nas paisagens que Astroboy faz descer sobre a repetição e electricidade das guitarras. Nascerá aqui, neste concerto, como aliás em todos, uma nova banda. JM
Black Bombaim ⟡ The Astroboy
Black Bombaim
The Astroboy
Minimalismo, drama, tensão e libertação, desejo exploratório, abstração pura e capacidade de experimentação são algumas das características que definem o trabalho de The Astroboy em Flow My Tears, momento ímpar na produção musical portuguesa contemporânea..