Retrato de um norte-americano em Copenhaga. Blue Lake nasce desse encontro pessoal e em terra originalmente incógnita, plena de estímulos, memórias e projecções numa casa isolada nas montanhas. O espírito irrequieto do multi-instrumentista Jason Dungan leva-o a imaginar uma frequência bucólica e balsâmica que contamina o mais recente álbum Sun Arcs. Disco bravo de propostas que encontram um habitat peculiar entre a folk mais telúrica e as vibrações livres do jazz. Traz melodias enviesadas e busca novas direções às que já estamos familiarizados, recordando iluminárias como Jim O’Rourke, Penguin Café Orchestra, Jeff Parker ou David Grubbs. Usando um zither personalizado de quarenta e oito cordas, guitarra, percussão, clarinete e ainda drum machine, o corpo híbrido de Blue Lake transparece a fugacidade do tempo e a fragilidade dessa consciência. A riqueza das paisagens criadas é tão imensa quanto possível e num inebriante estado quase-meditativo. Apesar da sua abordagem vanguardista, mantém uma linguagem imediata e harmonicamente sedutora em que a improvisação encontra meio.
Tido por muitos como uma das surpresas do ano, Sun Arcs oferece composições delicadas e inconformadas, tão essenciais para um profundo respiro da vertigem do mundo. Isolamento, silêncio e pequenas epifanias que cobram sentido maior na escuta sensorial proporcionada por Dungan. Apresentação imperdível neste arranque de ano. NA