Mathematics, IAMTHATIAM, I.B.M., The Sun God, Africans With Mainframes ou Hieroglyphic Being. Tudo facetas de uma visão descomunal que Jamal Moss tem vindo a partilhar numa narrativa elíptica, sempre nova e inesgotável. Dessas, será Hieroglyphic Being aquela que com maior premência e actividade tem vindo a desenhar novas formas de dança, vida e expansão sensorial numa torrente de lançamentos aparentemente infinita de exploração constante em torno de um universo singular. Música só dele, quase sempre superior na elevação da house e do techno à vastidão cósmica, em linha com a utopia afrofuturista, no rasto celestial e guerrilheiro de Sun Ra, Parliament-Funkadelic, Lee Perry ou os três de Belleville, mas a trilhar pelas ruas por onde gira Steve Poindexter, como reclamado num título como ‘Space is the Place (But We’re Stuck Here on Earth)’. Ou seja, escapismo com a realidade do South Side de Chicago em fundo.
A poeira cósmica que se abate sobre as caixas de ritmos, sintetizadores e parafernália analógica/digital de Moss, é herança de Ra escancarada em discos como ‘The Heliocentric Worlds of Hieroglyphic Being’, ‘Calling Planet Earth’ ou ‘Ancient Echoes’, pela via sinuosa do casal Coltrane em direcção à libertação. Caso bem raro de invocação jazzística com toda a propriedade, completamente fora do muzak de pads do rhodes ou samples redondinhos de saxofone, em espírito e em fogo. Partículas mutantes de jackin’, cascatas de sintetizador, corropio de arpeggios, linhas de baixo ácidas e soluções rítmicas sempre vivas, num som que agora nem é sempre tão sujo – The Red Notes, The Disco’s of Imhotep – mas igualmente verdadeiro. Tão evasivo e contínuo como sempre, numa imensa discografia feita de parcelas de um mesmo infinito. Como que a contemplar esse agora eterno, ao vivo Moss fixa os olhos num ponto de fuga que só ele vê. Aparição de um work in progress sem paralelo. BS