Na senda hard dance que ultimamente tem surgido, Melika Ngombe Kolongo ganhou lugar cativo na pele de Nkisi. Artista de visão periférica, a DJ e produtora nascida no Congo, mas actualmente residente em Londres, evoca o passado da diáspora africana entrelaçado com o prometido futuro do techno. De certo modo, o mundo distópico por si criado é-nos estranhamente familiar. A também criadora do colectivo NON, é de resto uma das vozes mais activas do momento – e não passou despercebida a Lee Gamble que a convidou para gravar um disco na sua label UIQ.
Nascia assim o fenomenal “7 Directions”, há quase três anos atrás, mas ainda hoje espécie de artefacto moderno. Poliritmia em choque com minimalismo, escuridão com raios néon e um incontrolável desejo de ascensão; as sete possíveis direções de Nkisi ainda estão longe de ser cartografadas, mas trazem um sentido de urgência inegável. Música libertadora, de transporte e renovação. Kolongo assina deste modo uma dedicatória especial, enquanto inspiração e orientação, a Kimbwandende Kia Fu-Kiau Bunseki, autor do livro African Cosmology of the Bantu-Kongo. Ao lado de nomes como Hieroglyphic Being, Gabber Mobus Operandi ou Lotic, a sua obra aporta um fluxo de energia em forma de som. Som bruto pronto a ser lapidado e refinado em algo mais, algo maior.
Nesta tour que já passou pelo festival holandês Rewire e pelo conceituado Centro Barbican, Nkisi chega à Galeria Zé dos Bois para uma noite de dança e evasão, sumariamente imperdível. NA