Fela Gucci e Desire Marea são dois ativistas LGBTAIQ sul-africanos, protagonistas no seu país de um verdadeiro movimento cultural, libertário e de vanguarda. Alicerçados na expressão musical, na performance e no design, juntos como FAKA trazer a Lisboa o lado mais selvagem e ao mesmo tempo “couture” e multicor do movimento Gqom do eixo Durban e Joanesburgo, dos quais são reis-rainhas incontestáveis. A música e a dança como eixo primário de comunicação de abertura, emancipação, crítica e consciencialização social. Puro paganismo conceptual e fiel a não ter género definido, travestido de reinvenções de kwaito gospel, pleno de superfícies rítmicas ásperas, para corações minimalistas, entre sintetizadores que partem da sempre híbrida e bem degenerada house sul-africana até panafricanismos psicadélicos apetecíveis já sem geografia aparente, apenas qualidade sonora e estética evidente. Este duo transsensorial que se afirma acima de tudo como storytellers trazem na bagagem os EPs “Bottoms Revenge” e “Amaqhawe”, duas deambulações exploratórias de amor, identidade, performance e orgulho, misturando cantos ancestrais e património musical zulu e gospel com experiências eletrónicas que lhes abrem facilmente a porta a qualquer pista mais contemporânea. Dois manifestos de pós-house que nos fazem pensar como será África em 2052 ou 2103. Livre? Sem preconceitos? Dançável certamente. NL
