O álbum de estreia dos caroline ouve-se em constante surpresa. Por um lado, vence uma série de ideias feitas que possam existir em relação a uma banda de oito elementos, que surge em 2022 com um primeiro longa-duração. Por outro, tem a boa arrogância de quem sabe para onde ir e como fazer para chegar até lá. Dark Blue, o tema de abertura, e também o primeiro que a banda começou a gravar (há quase cinco anos), quando ainda eram um trio formado pelo núcleo Casper Hughes, Jasper Llewellyn e Mike O’Malley, avança com uma timidez natural e vai afirmando o que quer dizer: “I want it all, so tell them”. Parece haver aqui uma contradição, mas não, faz parte do processo de absorver os caroline, a música avança na expectativa de que cresça, expluda, mas nunca o faz. Contudo, também não está ali a conter-se, aguentando a explosão. Não, não, fica ali num ponto em que está sempre a planar. É assim que se ouve “caroline”, a planar, indiferente às formas do pós-rock – as bases estão lá, mas só as bases – e gentil à assimilação de linguagens de outros género, sejam assimilações de alguma electrónica para o rock (Mark Fell ou Russell Haswell) ou frases que se costumam ouvir em gravações de folclore tradicional.
De trio, ao longo destes anos, cresceram para uma banda com oito elementos. Foram assimilando novos membros para construírem o som que hoje se ouve, por diversas vezes partindo de uma ideia que se vai enchendo com elementos sem nunca transbordar. O encher nunca passa pelo mais alto ou pelo maior, mas por um trabalho detalhado que vai buscar influências à música concreta e à contemporânea. Às tantas perguntamos se isto ainda é rock: é. A força e a energia estão lá, há um delicioso inconformismo que não desaparece, está sempre a existir e a crescer à medida que se conhece melhor a música dos caroline. Neste particular momento, em que incerteza se muda com mudança, a música dos caroline é certa. Vê-los ao vivo, com os oito em palco, com a sua música em constante gestação, será um dos acontecimentos de 2022. AS