ZDB

Música
Concertos

CAVEIRA — lançamento de ‘ficar vivo’ ⟡ Real Guns ⟡ Jazz is Back

qui28.03.2422:00
Galeria Zé dos Bois


©António Júlio Duarte
©António Júlio Duarte
Real Guns

CAVEIRA

Em contramaré da velocidade e da subjacente efemeridade dos nossos tempos, o processo de maturação em redor da obra já é raro. Ao longo de quase duas décadas, CAVEIRA transformou-se numa entidade algo errante, mas portadora de uma certa mitologia. As escassas e fogosas aparições em palco fizeram dos seus concertos genuínos acontecimentos. Entre 2005 e 2006, e num viveiro de edições de autor, surgiram registos de algumas gravações caseiras – hoje em dia espécie de artefactos. África e Cena Espírita foram registos em formato CDr que materializaram, de modo espontâneo e apaixonado, todo o fervor de uma herança jazz e blues camuflada de um manto rock sem amarras. Quebranto surgiu, na mesma altura, na editora Rafflesia (de Afonso Simões, dos Gala Drop), casa que albergou toda uma corrente criativa de gente como Calhau!, Tropa Macaca ou Coclea. Breves documentos, mais ou menos oficiais, cujos valores históricos e artísticos fazem-nos chegar agora a esta nova vida de CAVEIRA.

ficar vivo parece assim afirmação estóica, natural nesta lógica que serve de enquadramento para o surgimento e título do primeiro álbum (digno dessa identidade formal) da banda de Pedro Gomes. Consigo, o saxofone de Pedro Sousa, alinha-se à bateria de Gabriel Ferrandini e ao baixo elétrico de Miguel Abras. Gravado nos estúdios Namouche, conta com a masterização do mestre Tó Pinheiro da Silva, talvez o mais importante engenheiro de som português de sempre, responsável por obras chave que molduram a cultura popular nacional. Os três temas que compõem ficar vivo trazem a eletricidade das cordas de Gomes (mais telúricas que nunca) para um festim sensorial além do rock e do ruído. A construção catártica sente-se real e oferece uma ascensão ora dantesca, ora redentora – mas sempre com um crepitar fumegante de fundo. Há espaço para o lume brando e para a detonação num cenário onde cada instrumento vibra e ecoa, tão delicado quanto portentoso. Um disco ritualístico à sua maneira, ancorado no desejo de romper e transcender. Por outro lado, uma oferenda tremenda após uma longa espera – e que esta noite se apresenta na sala onde mais vezes se testemunhou essa energia sísmica de CAVEIRA. Celebremos. NA

Real Guns

Criado em Portugal e emigrado para o Reino Unido, foi a partir do regresso à sua segunda casa que, em 2019, o luso-são-tomense se fez MC. Em 2022, depois de uma assinalável leva de singles impactantes (“GANG CONSPIRACY”, “WAG1” ou “PEGA MIC” à cabeça), surgiu o primeiro trabalho de estúdio: Escrevo Com Sangue, inteiramente produzido por MikelPotter, serviu de reapresentação de um dos activos mais diferenciadores do drill cantado em crioulo por cá. E mesmo coisa singular e distinta, esta sua marca na cultura. Prestes a lançar um novo álbum, o método que o caracteriza e cantar o que vive, mostrar de onde vem e fazê-lo como ninguém. Não se pode pedir muito mais que isto. A realidade não tem preço!

Próximos Eventos

aceito
Ao utilizar este website está a concordar com a utilização de cookies de acordo com o nossa política de privacidade.