ZDB

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Ciclo Kenneth Anger

04.05 — 22.06.09
Galeria Zé dos Bois


CICLO KENNETH ANGER

De 4 de Maio até 1 de Agosto de 2009, a ZDB apresentou um evento alargado dedicado ao realizador norte-americano – Kenneth Anger.

Este evento reuniu, excepcionalmente, um conjunto de artistas e ensaístas nacionais e internacionais, em torno da sua obra. Sob formatos diversificados, inclui a apresentação retrospectiva da obra do cineasta, a realização de uma exposição de artes visuais, uma conferência, e um programa de concertos.

Lançada pela ZDB, esta iniciativa, à qual se associaram como parceiros a Fundação de Serralves e a Cinemateca Portuguesa, tomou, como condição inicial, que este fosse um acontecimento catalisador de periferias de sentido, garantindo um lugar de excepção a este autor.

Durante a semana de 4 a 9 de Maio – período inaugural e momento de maior concentração do evento – as actividades tiveram lugar entre Lisboa e Porto, dividindo-se entre a ZDB, a Cinemateca Portuguesa e a Fundação de Serralves.

A programação e curadoria deste evento interdisciplinar foram comissariadas por Natxo Checa, assistido por Miguel Ferrão; Sérgio Hydalgo e Marta Furtado. Com assistência na consultoria de Benjamin Bréjon, Marco Pasi, Hugo Canoilas e António Rodrigues.

Centrado na obra de um dos mais salientes autores do século XX, o Ciclo Kenneth Anger atenta à exploração da sua influência nos mais diversos espectros culturais.

A obra de Kenneth Anger caracteriza-se pela contundência do seu percurso, intimamente ligado a uma imagética hermética. Assumindo-se como mago-cineasta, é no filme, encarado como superfície de fusão da sua paixão pela magia e culto da luz, que Anger estabelece um compósito de fascínio, envolvimento e hipnose.

Construído em torno da indústria de Hollywood e, sobretudo, dos seus rumores – dos quais os dois volumes de

Hollywood Babylon (vol. I, 1965 e vol. II, 1984) são a afirmação – o corpo de trabalho de Kenneth Anger eleva-o para lá do que poderia ter sido um percurso vincado apenas nas décadas de 50, 60 e 70, catapultando-o para um estado de permanência activa, através de uma produção espaçada mas contínua, e da incursão por novos projectos ao longo da sua extensa carreira.

A sua obra, marcada pela contundência das imagens e pela clara polarização dos seus conteúdos, fez-se preencher de momentos de excepção, conjugando na película o que de mais oculto se estabelece na relação entre o homem, as forças naturais e a inevitabilidade de uma linguagem mediada por símbolos.

Assumindo que Kenneth Anger se foca na visão demoníaca de uma parcela de tempo, quase espontânea e reactiva, é num momento de viragem – a última versão de Lucifer Rising (1966-80), que esta visão se terá expandido, tornando-se em última instância, mais divina e perene.

O tempo nas obras de Kenneth Anger – o tempo distendido entre o sonho e a hipnose – que já Fireworks (1947), o primeiro filme oficial do cineasta (conotado com o momento em que este se terá declarado publicamente como adepto do sistema de auto-análise de Aleister Crowley), convocava – traz para o cinema um contexto alquímico de transformação derradeira, de redenção mística pelo fogo e, de exaltação da crença no homem que se supera por estas vias nos seus domínios animal e intelectual.

Com um modelo narrativo baseado na análise comparativa de mitos, religiões e rituais – com uma preponderância de apropriação de símbolos ligados à Abadia de Thelema – é na criação de um sistema complexo de relações, que a obra de Anger sustenta um impulso gerador de reconstruções imediatas da realidade, incidindo assim no carácter transformador do mago. Conotada com um certo anacronismo relacionado com as técnicas de realização que apresenta, o uso singular da música destaca-se na sua obra, incidindo na sincronização com as imagens, absolutamente intencional e amplificadora de sentidos.

Neste aspecto, é de salientar a revisão contínua que o realizador fez aos seus filmes partindo das bandas sonoras, alterando, sempre que necessário, o entendimento do visível, quer com a introdução de novas imagens, quer com a reordenação pontual dos conteúdos prévios.

Se a imagem activa o processo inebriante que percorre a obra de Anger, a música contextualiza-a e oferece-lhe diversos níveis de entendimento. Não sabemos se Kenneth Anger será hoje o mesmo que, questionado por Vasco Câmara em 1993, afirmou a sua crença pelo passado como algo que “não morreu”; a ser, este ciclo deverá confirmá-lo.

PROGRAMA DE CINEMA CICLO KENNETH ANGER
Uma retrospectiva filmográfica exaustiva será exibida na Cinemateca Portuguesa e, numa sessão compacta na Fundação de Serralves. As sessões contarão com uma conferência de Marco Pasi e a presença de Kenneth Anger.

 

Cinemateca Portuguesa

Dia 4 de Maio, pelas 21h30, Sala Dr. Félix Ribeiro:
Sessão de cinema
Fireworks (1947, 20 min., 35 mm, preto & branco, som)
Inauguration of the Pleasure Dome (1954, 38 min., 35 mm, cor ,som)
Invocation of My Demon Brother (1969, 12 min., 35 mm, cor, som)
Lucifer Rising (1981, 29 min., 35 mm, cor, som)
Ich Will! (2008, 35 min., DVD, cor, som)

Conferência de Marco Pasi com a presença de Kenneth Anger.
Anger without Tears: The occult films of Kenneth Anger

Marco Pasi fará uma abordagem ao contexto oculto no qual os filmes de Kenneth Anger poderão ser colocados e entendidos. Introduzirá, designadamente, aspectos da vida e princípios definidos pelo ocultista britânico Aleister Crowley (1875-1947), que cumpriu um papel de referência constante para Anger. A própria produção artística de Crowley e, o interesse que Anger demonstrou por esta no seu próprio trabalho, serão proposições igualmente discutidas. A comunicação de Pasi incidirá também no renovado interesse pelo ocultismo em geral, e por Crowley, em particular, que a contemporaneidade artística tem evidenciado. Tomará assim, como asserção, o entendimento da obra de Anger como um formidável termo de comparação, essencial a uma análise assertiva desta recente tendência.

Dia 7 de Maio, pelas 21h30, Sala Dr. Félix Ribeiro:
Sessão de cinema
Puce Moment (1949, 6 min., 35 mm, cor, som)
Rabbit’s Moon (1950, 16 min., 35 mm, preto & branco – colorido, som)
Eaux d’Artifice (1953, 12 min., 35 mm, preto & branco, cor)
Scorpio Rising (1964, 28 min., 35 mm, cor, som)
Kustom Kar Kommandos (1965, 3 min., 35 mm, cor, som)

Fundação de Serralves

Dia 5 de Maio, na Biblioteca de Serralves, pelas 18h00:
Conferência de Marco Pasi: Anger without Tears: The occult films of Kenneth Anger
com a presença de Kenneth Anger.

Dia 5 de Maio, no Auditório de Serralves, pelas 21h30
Sessão de cinema:
Fireworks (1947, 20 min., 35 mm, preto & branco, som)
Inauguration of the Pleasure Dome (1954, 38 min., 35 mm, cor ,som)
Invocation of My Demon Brother (1969, 12 min., 35 mm, cor, som)
Lucifer Rising (1981, 29 min., 35 mm, cor, som)
Ich Will! (2008, 35 min., DVD, cor, som)

PROGRAMA DE CONCERTOS CICLO KENNETH ANGER


No âmbito do Ciclo Kenneth Anger a ZDB Müzique preparou um conjunto de propostas transgressoras que, tal como o iconográfico Anger, anjo esotérico do bizarro mais recôndito, entram na noite pelo lado onde há menos gente.

Dia 6 de Maio, às 21h30, no Auditório da Fundação de Serralves
Dia 9 de Maio, às 22h, no Palácio de Valadares, ao Largo do Carmo
Technicolor Skul e Mark Stewart + Mécanosphère

Dia 15 de Maio, às 23h na Galeria Zé dos Bois
Larsen & Little Annie

Dia 4 de Junho, às 23h na Galeria Zé dos Bois
Baby Dee

Dia 22 de Junho 2009, às 19h, na ZDB
Apresentação/conferência de Olivier Schefer
« Somnambules et zombies : politique et esthétique du déplacement »
Integrada nas actividades do Ciclo Kenneth Anger e como complemento à exposição ESTRELA BRILHANTE DA MANHÃ, Olivier Schefer apresentou a conferência « Somnambules et zombies : politique et esthétique du déplacement ».

Conferência com projecção de imagens dedicada à estética contemporânea do intermédio e transitório. Fazendo convergir as temáticas da ciência magnética do séc. XVIII, a hipnose do séc. XIX, a Land Art e a filmografia de série B, Olivier Schefer referirá o deslocamento e a invisibilidade presenciados em corpos sonâmbulos ou seres zombies. Tomando como exemplo, o ritual congolês Obeah, Schefer abordará a questão do mágico no processo de zombificação.

Olivier Schefer é professor de estética, filosofia e arte na Universidade Sorbonne (Paris 1). Trabalha sobre o Romantismo e as suas implicações modernas, tendo estado presente, na ZDB, em Setembro de 2007, no ciclo de conferências e debates realizado no âmbito da exposição Transitioners de Société Réaliste.
Publicações recentes: “Anish Kapoor: To Darkness: Svayambh” (Fage, 2007), “Les corps du retour” (Zombies) (Fresh Theorie, Ed. Léo Scheer, 2006), “Résonances du romantisme” (La Lettre Volée, 2005).

APRESENTAÇÃO DE PUBLICAÇÕES
No âmbito da edição, procedeu-se ao lançamento das publicações:

Scorpio Rising : Transgressão Juvenil, Anjos do Inferno e Cinema de Vanguarda, de Ondina Pires (ex-pop Dell’Arte, The Great Lesbian Show), editado por Chili Com Carne + Thisco, um livro que, embora se centre numa análise do mítico filme de Kenneth Anger, leva o esforço mais longe, aprofundando temáticas como os gangues, violência, Cristianismo, Nazismo, máquina e velocidade, encarando a cultura enquanto local de aparição de fenómenos extremos.

Acto #9, uma compilação de ensaios de especulação crítica, articulados em torno das noções de “fantasma”, “invisibilidade”, “metamorfose críptica” e “corpo espectral”, coordenada por Benjamin Brejon e Manuel João Neto, que inclui a colaboração, entre outros, de Olivier Schefer, Carlos Vidal e do colectivo Bureau d’Études.

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