ZDB

Projecto Educativo
Cinema

CINEMA, OSPAAAL E LIBERTAÇÃO

— Ciclo de cinema comissariado e apresentado por Olivier Hadouchi

ter19.09.1718:30
qui21.09.1718:30
Galeria Zé dos Bois


79 Primaveras (Santiago Álvarez, Cuba, 1969)
El tigre saltó y mató, pero morirá… morirá (Santiago Álvarez, Cuba, 1973)
Hanoi Martes 13 (Santiago Álvarez, Cuba, 1967)
La hora de los hornos (Fernando Solanas, Argentina, 1968)
Madina Boe (José Massip, Cuba, 1968)
Milagro en la tierra morena (Santiago Álvarez, Cuba, 1973)
Now (Santiago Álvarez, Cuba, 1965)

Na sequência da fundação da OSPAAAL, nascida da Conferência Tricontinental de Havana em Janeiro de 1966, um conjunto de destacados cineastas e documentaristas latino-americanos, entre os quais se contavam nomes como Santiago Álvarez, Glauber Rocha, José Massip, Fernando Solanas e Octavio Getino, realizaram filmes de inegável impacto e relevância política e estética, nos quais se combinava a invenção formal e a militância a favor da luta anti-imperialista e da libertação do terceiro mundo. Reunidos de modo informal em torno do manifesto Hacia un Tercer Cine, assinado por Solanas e Getino nas páginas da décima sexta edição da revista Tricontinental (publicação OSPAAAL, 1969), o movimento de experimentação e combate artístico iniciado por estes autores veio a inspirar um conjunto alargado de cineastas e colectivos na América Latina, em África, na Europa e nos sectores mais radicais dos Estados Unidos, a estabelecer uma via alternativa ao modelo industrial de Hollywood (primeiro cinema) e ao modelo autoral defendido em publicações como “Cahiers du Cinéma” ou “L’Écran français” (segundo cinema). O terceiro cinema foi, portanto, uma arma discursiva e visual ao serviço da libertação dos países do Terceiro Mundo, um gesto a favor da descolonização cultural e dos movimentos revolucionários.

Sessão #1 – Quarta-feira, 20 de Setembro

Now! (Santiago Álvarez, Cuba, 1965) 5 min

Curto filme de elevado cariz experimental, Now! foi realizado em solidariedade para com as lutas dos afro-americanos face à segregação racial nos Estados Unidos. Com este filme, cuja articulação com a com banda sonora, interpretada por Lena Horne, o tornou num dos primeiros videoclipes, Santiago Álvarez aparece como mestre da “montage” (dialogando, ainda que inadvertidamente, com as práticas de Vertov e Einsteisen) e da ”collage”, sem deixar de jogar também criticamente com a ”Pop Art”.

Hanoi Martes 13 (Santiago Álvarez, Cuba, 1967) 37 min

Aquele que foi o primeiro filme feito para a OSPAAAL, Hanoi Martes 13 foi filmado no meio da guerra do Vietname e documenta a resistência dos civis vietnamitas contra a repressão imperialista norte-americana.

Hasta la victoria siempre (Santiago Álvarez, Cuba, 1967) 19 min

Santiago Álvarez realizou este filme em homenagem a Ernesto Che Guevara pouco depois do seu desaparecimento na Bolívia, em Outubro de 1967. Não se trata aqui de propor uma leitura cristalizada e hagiográfica do herói, mas antes dar uma imagem em movimento de Che, como que para mantê-lo vivo e lutando para sempre… até a vitória final.

79 Primaveras (Santiago Álvarez, Cuba, 1969) 24 min

Um dos mais inventivos e experimentais filmes de Santiago Álvarez, realizado a partir de imagens de arquivo e jogando com o som e uma banda sonora composta por música pop e clássica. Jean- Luc Godard considerou este como um dos melhores retratos da guerra no Vietname, chegando a dedicar um capítulo da sua História(s) do cinema em homenagem a Álvarez.

Sessão #2 – Sexta-feira, 22 de Setembro

Última sessão seguida de conversa com Olivier Hadouchi

La hora de los hornos (Fernando Solanas, Argentina, 1968) extractos: 20 min

Filme de culto com a duração de quatro horas e meia, La hora de los hornos problematiza e pugna pela libertação na Argentina e no Terceiro Mundo a partir de uma perspectiva anticolonial e anti- imperialista. Recorrendo, de modo contundente, a vários tipos de fontes (documentários, arquivos, etc.) este filme lança um olhar crítico não só sobre a sociedade, mas também sobre a cultura na Argentina. Um filme de contra-informação, ensaístico, panfletário, combatendo as visões dominantes na convicção de que – como é dito no filme – ”As comunicações de massa são mais eficazes do que o napalm”.

Madina Boe (José Massip, Cuba, 1968) 30 min

Um importante testemunho sobre a guerra de libertação contra o colonialismo português na Guiné-Bissau e, em particular, na localidade de Madina Boé. Neste filme, encontramos imagens de Amílcar Cabral com guerrilheiros PAIGC que viriam a ser incluídos em muitos outros documentários.

El tigre saltó y mató, pero morirá… morirá (Santiago Álvarez, Cuba, 1973) 15 min

Obra de resposta ao golpe que, a 11 de Setembro de 1973, derrubou o governo de Salvador Allende e da Unidade Popular no Chile. Numa atitude de denúncia face ao regime ditatorial de Pinochet e à repressão que este exerceu sobre a esquerda chilena e sobre os mais variados sectores populares, este filme é um grito contra uma ditadura selvagem no Cone Sul da América Latina e um apelo à resistência popular contra aquele regime.

 Milagro en la tierra morena (Santiago Álvarez, Cuba, 1973) 21 min

Filme muito raro e bastante desconhecido sobre a Revolução dos Cravos, com entrevistas a membros do MFA português e imagens de Amílcar Cabral e da resistência na Guiné-Bissau. Um olhar sobre a libertação da palavra e do modo como ela ocupou as paredes de uma cidade em pleno processo revolucionário.

 

Olivier Hadouchi

Nascido em Paris, em 1972, Olivier Hadouchi é historiador e programador de cinema. Em 2012 defendeu a tese de doutoramento na Universidade de Paris III intitulada O cinema nas lutas de libertação: génese, iniciativas práticas e invenções formais em torno da Tricontinental (1966- 1975). Em 2012 participou nas exposições colectivas Action Painting Publishing! – Architectures du colonialisme, uma iniciativa do grupo Architectures du colonialisme, criado por Marion Von Osten nos Laboratoires d'Aubervilliers e no espaço dedicado a Michèle Firk, bem como na exposição colectiva De Menocchio conhecemos pouco, no Bétonsalon. Programou ciclos para o BAL, para a HEAD e para o cinema Grütli, em Genebra, para o Bétonsalon, para a exposição Populaire, Popular 3, na Écran de St Denis. Co-organizou, com Nicole Brenez, a retrospectiva Jocelyne Saab na Cinemateca Francesa e, em 2012, deu palestras em escolas de arte em Lyon, Nantes, Lorient, La Reunion, Alba ou Beirute. Participou em numerosas conferências e apresentações de filmes em festivais e sessões especiais. É co-programador do Panorama de Cinema do Magrebe e do Médio Oriente.

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