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Música
Concertos

Circuit Des Yeux ⟡ Manuel Mota

qui08.10.1522:00
Galeria Zé dos Bois


Circuit Des Yeux
Manuel Mota

Circuit Des Yeux

No último par de anos Haley Fohr entregou-se de corpo e alma a uma longa digressão pelos Estados Unidos e Europa (de que Lisboa foi palco por duas vezes), lidando com as naturais condições de exigência emocional e física que a situação acarreta. Sozinha, era ela quem agendava os concertos, preparava o sound check e guiava a viatura com o seu material. Uma experiência solitária que no entanto moldou muito do material bruto que viria a ser a transformar-se no novo álbum. In Plain Speech não omite intenções e assume-se tão directo quanto anuncia. Baseando-se na interactividade que teve com o público durante esse período, esta nova fase de Circuit Des Yeux toma parte dessas impressões e leva-as para o seio de uma banda. Da recolha pessoal para o tratamento colectivo, Haley rodeia-se agora de um brilhante e luxuoso grupo de colaboradores – em estúdio e ao vivo – onde se incluem Cooper Crain (dos Cave), Rob Fried (Bitchin Bajas) e ainda Kathleen Baird (das Spires That In The Sunset Rises).

Observando em perspectiva, Overdue foi uma pedrada certeira para Fohr, um turning point necessário. A produção cuidada, mas de céu aberto para a trovoada, o apuro das ambiências dramáticas e a imponência de uma voz barítono vinda de uma jovem mulher acentuaram tudo o que no passado já se vinha a reconhecer. Obviamente que o carisma das canções aí instaladas tiveram uma repercussão mediática justa à energia magnética que o disco detinha, sendo a chegada a uma audiência mais ampla um feito mais que merecido.

Recheado de intensidade, In Plain Speech move-se, pé ante pé, por mezzanines decrépitas e por extensos canaviais num crescendo sensitivo, frequentemente em direcção a um clímax inevitável. Neste sentido, retoma pisadas anteriores embora paire um clima triunfante, bem mais cinemático e com uma paleta sónica mais variada que nunca (escutam-se drones, ruídos de origem incerta e efeitos impressionistas quando menos se espera). Em relação aos elementos basilares, estão todos lá: psicadelismo, pós-punk e folk de cariz pagã assombram o ambiente de inquietude e de suspense nestas canções de ossos, coração e torneado músculo.

Voltar a receber uma artista em evolução permanente como é o caso de Haley Fohr, é sinónimo de voltar a reencontrá-la num processo de descoberta de si e do que a rodeia. E essa é efectivamente a maior das regalias que poderia existir. NA

guitarra, voz: Haley Fohr | viola: Whitney Alleen | percurssão, flauta: Ailbhe Nic Oireachtaigh

Manuel Mota

Mais do que um explorador da guitarra no seu sentido mais formal e asséptico, Manuel Mota é um apaixonado pelo instrumento cujo estudo minucioso em torno das suas características se revela sempre pleno de lirismo. Com a tradição mais romântica e poeirenta dos blues a assombrar o seu trabalho de forma expressiva mesmo que aparentemente intangível, Mota é uma das figuras de proa do improviso em solo europeu, e um dos guitarristas mais vitais das últimas duas décadas em qualquer lado.

Esquivo a qualquer catalogação vaga ou ao ruminar preguiçoso da sua própria linguagem, Mota desafia-se continuamente no seu próprio centro gravitacional encontrando sempre espaços por explorar numa música profundamente sua. Das últimas vezes que o vimos a solo, tanto a apanhámos embrenhado em electricidade a evocar os últimos acordes do guitar hero, como em suspensão terna de notas languidas. Sempre imprevisível e sempre obrigatório. BS

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