Da samplagem aquosa até ao tricotado de canções, conta-se já mais de uma década de experimentação e deslumbre, ambas as naturezas em dosagens equiparáveis. Perante o arrebatamento do novo disco Captain Of None (Thrill Jockey records) é árduo conceber a possibilidade de que afinal tudo isto poderia nunca ter surgido dada a desistência temporária da francesa no que diz respeito à produção musical. Mas felizmente não só se assistiu a um merecido retorno como também um renascimento pessoal e artístico. The Weighing Of The Heart, álbum de 2013, simbolizou esse ponto cardeal e hoje assume-se quase como álbum de passagem para esta nova fase. Um capítulo onde a omnipresença rítmica – por vezes escutada, outras vezes sugerida – enquadra-se nas suas apuradas paisagens oníricas, escorrendo agora cores garridas ao invés do tom sépia dos primeiros tempos. Claro que o passado continuará dourado e merecedor de uma devoção recorrente – pois não existe outro modo quando o mundo é assim acariciado – contudo, a obra de Colleen não cessa de florescer em ideias e possibilidades.
O efeito de encantamento permanece contudo intocável. Parece ganhar ainda assim uma tridimensionalidade inédita, seja pelos elementos da percussão africana, seja pelas lições de estúdio herdadas do dub. Conhecendo-a, sabemos que cada um destes géneros é incorporado na sua obra de forma discreta e hábil, numa diluição pop constante. A viola da gamba continua a soar purificadora e destacar-se como instrumento fulcral nestas composições. Totalmente gravado, masterizado e produzido pela própria, o lançamento de Captain Of None justifica o retorno de Colleen a Lisboa, cidade onde mantém uma sólida relação com o público – e onde deixou a melhor memória possível na sua última actuação na Igreja de St. George, num evento especial produzido pela ZDB. Mais um encontro imperdoável com uma das maiores do nosso tempo. NA