A constatação da fragilidade humana implica, de imediato, uma estagnação das suas causas. Conforme a administração da sociedade do controlo se vai tornando mais cerrada, vão os sentimentos mais primários e universais irrompendo de forma gritante e/ou patética. Sentimentos que estão sempre acima da lei, e sempre sob o seu jugo. Com a Revolução Industrial solidifica-se o mito de um desprendimento das energias vitais, mas a utopia configurou-se como a pura reificação da vida, ao administrar e sobrecodificar toda e qualquer substância existente.
No conto de Philip Dick o gelo é quebrado pelo próprio agente da autoridade, o polícia, ao ser condescendente com os estudantes – forçados pelo aparelho de Estado a permanecer nos subterrâneos da cidade – e acabando inclusive por chorar, aquando da morte de sua irmã, de quem havia tido um filho.
Assim que um sistema atinge a sua completude dá-se início à sua decadência, visto haver-se deslocado abruptamente do eterno efémero da existência. Aberto o ponto de ruptura, não mais findam as hemorragias e irrompem com a violência de um 11 de Setembro, dos fluxos migratórios a nível mundial, com o acréscimo desmesurado da toxicodependência e das neuroses, com o sentimento de solidão assim como de ausência. Consoante esta torrente avança, torna-se mais precisa a noção de se tratar de um fluxo impossível de travar pela consciência humana.