Mestre, virtuoso absoluto do clarinete que expande a tradição turca da música de casamento, circuncisão e demais motivos de celebração para a cultura romani até um ponto de frenesim e contágio urgente e nada passadista. A celebrar o agora como infinito, numa música feita na e das ruas, sincera no espírito e imparável no trato, quase psicadélica na forma como o dilúvio harmónico, rítmico e tímbrico de clarinete, sintetizador e percussão leva a um estado febril no engajamento de hipnose e movimento. Música com longo legado nas costas mas em novas roupagens, que noutras latitudes e histórias se projecta no mesmo sopro extático da música de encantadores de serpentes do Nepal ou do ‘The Snake Decides’ de Evan Parker, e descarta qualquer intelectualização supérflua.
Vindo de uma longa linhagem de músicos, naquela que é ainda uma tradição familiar, Sepetçi reinventa essa linguagem nos contextos mais genuínos, nas ruas, nas festas de família, na televisão pública, mas também em festivais e casas atentas por toda a Europa, fora de meandros mais auto-conscientes de suposta inovação. Basicamente, suspende uma torrente de som – bem alta, de acordo com os relatos – com propriedades dançantes – do ventre, de qualquer forma – em que o clarinete se enreda com os teclados micro-tonais e a percussão, num galopar incessante, onde o virtuosismo não é show off mas um MO natural. Tudo muito frenético, e muito, muito feliz. Lançado em 2016 pela LM Duplication de Heather Trost – A Hack and a Hacksaw – ‘Bulgar Gaydasi’ é um óptimo documento possível para ir antecedendo a festa, mas esta música existe para ser vivida aqui, bem próxima. BS