Inclassificável é a única forma de classificar Daniel Higgs. Desde os tempos em que liderava os Lungfish, decididamente a mais intrincada e definitivamente a menos hardcore de todas as bandas da Dischord, editora de Ian McKaye (primeiro dos Minor Threat, depois dos Fugazi) que mais ou menos inventou o género, até à mais recente aproximação às músicas primitivas, o seu trabalho vem implicando um distanciamento, uma capacidade para transcender expectativas, estilos e, sobretudo, comparações. Pessoas como Daniel Higgs não se comparam. A dimensão espiritual da sua música é a única dimensão que existe. Apátrida, absorvida por uma ancestralidade cósmica cujas raízes tanto se encontram na América como no Magrebe ou na Índia, celebra a visão de alguém que inspira numa golfada a respiração do mundo. Paradoxalmente, Daniel Higgs conhece actualmente, no momento maior da sua entrega ao desconhecido, uma exposição mediática inaudita, fruto das documentações frequentes que a influente editora de Chicago Thrill Jockey tem feito do seu trabalho. Regressa à ZDB, quase dois anos depois de nos ter oferecido uma das mais intensas prestações que pudemos testemunhar, para apresentar o novíssimo “Beyond & Between” Uma clareira para tirar do escuro esta espécie de tremor. MP
