No início deste milénio, na Lisboa ainda decadente, de ruas encharcadas pelo peso da noite, surgem dois vultos debruçados sobre uma guitarra e um contrabaixo. Tocam a cidade na penumbra da madrugada, tocam o fado sombrio no cinema de Morricone. Tocam a Lisboa da face mais taciturna, do quotidiano corriqueiro e da portugalidade mais entranhada. Tocam a guitarra de Paredes ligada à corrente, num espaço cinematográfico que cruza as paisagens sonoras de uma cidade, do amolador de facas aos assobios bairrista. Porém, cantigas de realidade documentada, de ruas vividas aliadas a determinado surrealismo epopeico. Tó Trips e Pedro Gonçalves fundem universos, deambulam em contraluz, de silhuetas vincadas em palco reinventam o tradicionalismo da música portuguesa e dão-lhe um nome: Dead Combo.

Subiram ao Bairro Alto e fizeram da ZDB a primeira morada de criação, aqui ensaiaram e deixaram uma família: Dona Emília, figura maternal dos Dead Combo tem ‘canção-homenagem’ em “Bunch of Meninos” (2014). Agora, na última digressão regressam para um reencontro final em dose dupla. Não é uma despedida, mas antes uma celebração. Uma vida de discos e canções para ser revisitada na casa de partida dos Dead Combo: a ZDB. JH