Sara e Tralha + Guilherme Rodrigues
O cão preserva o compasso binário assinalado pelo banquete e pela fome, deleite e caça. No entanto, a excepção!, este ritmo é quebrado pelo rito, o momento visionário em que o cão, criando um espaço metafísico, atemporal e local do tesouro, guarda a receita ancestral da imortalização, osso. O cão escava este novo lugar que guarda a matéria, fazendo ponte entre a comunidade do passado e a do futuro. O osso explicita um sistema de sensibilidades hereditárias e expansivas. O gesto mágico que dá origem ao enterro determina que o osso, que é motor, motivo e agente da prática, é mais corpo mediador que osso. Este osso é, na verdade, a imagem de todos os ossos multiplicados em si.
Dog Digging é parte integrante do projecto e arquivo Arqueologia do Imaginário, um conjunto de símbolos e objectos evocativos criados e manipulados por Sara e Tralha.
Dois bocados de mundo unem-se. A sonoplastia de Guilherme Rodrigues, tecendo diferentes atmosferas, acompanha e reorienta as presenças contidas nos objectos, ao longo da noite.