Os temas já adiantados de “Angeltape”, segundo longa-duração dos Drahla (Leeds) que sairá em Abril, bem como as experiências que foram revelando ao longo do último ano e meio via Bandcamp, antecipam o próximo passo de uma banda que assumiu com coragem o art-rock em “Useless Coordinates” (2019) e soube aguardar para se reanimar criativamente e com o mundo. A estreia dos Drahla alinhava-se com um sentimento presente na música rock actual britânica, uma ligação ao pós-punk por via do pós-rock. Há muitos nomes que se podem debitar para este grupo, talvez mais importante do que a ideia de influências é a sensação de pertinência que este som começa a ter.
Talvez se deva recusar – no caso dos Drahla, por completo – a ideia de “regresso” ou algo que vem com o sabor da nostalgia, porque “Useless Coordinates” tinha aquela coisa importante do rock chamada urgência. A urgência do mal-estar actual, seja de uma geração, seja de um mal do mundo, é cada vez mais evidente. E se se gosta de anunciar de que a arte avisa, pois bem, a arte tem avisado. Nos Drahla ouve-se menos o que está para vir, mais a dessincronia de quem vive o presente sem poder ver o futuro com euforia. Havia um caminho traçado, fosse cruzar Sonic Youth com This Heat ou juntar Slint e James Chance, e depois ficou um vazio causado pela pandemia. Pararam de propósito, para pensar, reajustar, reflectir como a urgência se poderia manifestar num mundo parado. Não fazia sentido, claro. Sobretudo quando não se podia fugir para nenhum lado. E a música dos Drahla tem isso: essa fuga, uma corrida sem destino. E aqui estamos, em 2024, eles com novo álbum, nós a ver o mundo a ruir. Eles com urgência, nós com a necessidade de sentirmos música pulsante que nos faça agir e acordar. Quando passarem por cá, “Angeltape” já terá sido editado, já todos o terão ouvido e celebrado uma banda que acordou e sentiu que tinha de fazer canções mais rápidas, altas, angulares, para serem ouvidas daqui para a frente. Imaginem os Sonic Youth de “Bad Moon Rising” a tocar “Unknown Pleasures”. Bom, já não precisam de imaginar. Podem ouvir os Drahla. AS