A Galeria Zé dos Bois apresenta, entre os dias 22 de Abril e 24 de Junho, a exposição Duplo Vê, de Mattia Denisse. No seguimento da mostra homónima apresentada na Casa das Histórias – Paula Rego, em finais de 2016, esta exposição integra os desenhos então mostrados e acrescenta uma série inédita, intitulada O Tautólogo, com cerca de duzentos novos trabalhos. Esta nova série será também objecto de um livro a editar pela Dois Dias no decorrer da exposição. Este amplo conjunto de trabalhos permitirá ao público mergulhar nas narrativas elípticas deste artista francês sedeado em Lisboa há cerca de duas décadas.
Duplo Vê, título da exposição que Mattia Denisse agora apresenta na Galeria Zé dos Bois, remete tanto para o nome da letra W, quanto para o “duplo ver” de um Deus vesgo. Segundo o próprio artista, “Existe uma tentação tão antiga como a aparição do homem: o desejo de ver outras realidades atrás da realidade. Esta disposição multiplica infinitamente as possibilidades de interpretação e o significado das coisas e impossibilita a nomeação das coisas tal e qual como elas são. Este atavismo – ver atrás das coisas outras coisas – nasce duma deformação ocular de Deus, um estrabismo convergente tão pronunciado que se traduz num desdobramento. Estas realidades, assímptotas, não são mais do que o reflexo simétrico do mesmo, uma Tautologia.”
Composta por uma ampla selecção de desenhos, esta exposição convoca o espectador a embrenhar-se nas teias de um conjunto de narrativas elípticas e largamente idiossincráticas. Centradas num conjunto de personagens arquetípicas e recorrentes – entre as quais se encontra o próprio artista – estas narrativas desdobram-se e contaminam-se, fazendo de cada desenho um instante particular de uma dada história, bem como um ponto de ligação entre histórias distintas. Assim, a série As Metamorfoses das Sombras pode estar próxima de A Guerra das Formas; na série W ou a Vida Selvagempode aparecer um detalhe que pertence a O Quarto Nupcial do Anti-Globo; a série A Nova Teoria do Sacrifício pode ter semelhanças cromáticas com A História Fantástica do Mergulho e por aí em diante. Estas inúmeras combinações alimentam a hipótese de uma história infinita.