ZDB

Artes Performativas
Performance

COSMOGONIAS, Eles não nos poderão matar o espírito

— de Elizabete Francisca

qui10.10.2419:30
sex11.10.2419:30
sáb12.10.2419:30
ZDB 8 Marvila — Praça David Leandro da Silva 2, 1950-131 Lisboa


©Tamara Seilman
©Tamara Seilman

Sabendo do que me anima e move, uma amiga – a Flora – recomendou-me o livro Les Guérillères de Monique Wittig. Poema épico de escrita incompleta e de uma força quase mítica, descreve o quotidiano (e a revolta) de um grupo de mulheres, invocando as suas visões e determinações em ambientes extremamente sensoriais e até alucinatórios, ancorados na firme vontade em destituir um sistema opressor para criar uma linguagem (entenda-se mundo) que fale a sua língua. Elles (“elas”) como Wittig designa estas mulheres, são as protagonistas de um projecto político e poético revolucionário.

Um texto que fui lendo aos poucos. Saltando páginas, folheando-o para a frente e para trás. Uma leitura feita de hiatos que me permitiu imaginar possíveis continuações da história, preencher buracos na trama e projetar-me, finalmente, para dentro dela.

A par disto, as ilustrações de Tja Ling Hu, as performances de Ana Mendieta, as palavras sobre a caça às bruxas de Silvia Federici e de Kristen J. Sollee compuseram um conjunto de materiais que relevam figuras femininas arquétipas e mitológicas, e que, aliadas à vontade de evocar as suas presenças e à necessidade de não fazer nada, de ficar quieta, formam a tecedura (in)visível do que aqui apresento.

COSMOGONIAS, Eles não nos poderão matar o espírito, uma performance que se rege por princípios de circularidade, tornando visível uma figura que atravessa uma paisagem onírica em constante metamorfose, poderia ser um recorte do texto de Witting, mas é sobretudo uma espécie de conversa. Como se eu estivesse a conversar com a autora, a conversar com o que ela escreveu, a conversar com todas elas. E, inevitavelmente, nesta troca fantasmática, surgo eu: aquilo que posso ser neste momento com toda a tralha que me ocupa, que carrego frente ao futuro. E nas pausas, para além de as ouvir – a elas – os estados emergem e a dança faz a costura.

Deixar que a leveza, o desconhecido e o subterrâneo se liguem e se confundam para criar um lugar entre. Numa atmosfera calma, quase como se fosse possível endereçar um convite a respirarmos juntes.

Elizabete Francisca

Elizabete Francisca move-se em contextos multidisciplinares e colaborativos, na área da dança, das artes visuais e do cinema. Reivindica cada corpo como lugar autónomo, singular e legítimo, procurando estar próxima de uma intimidade, e por isso emancipação, mesmo que sempre numa rede de paradoxos. Algo indestrinçável de uma preocupação (e urgência) em dar voz a um activismo pessoal, político e social. Foi artista apoiada pela Materiais Diversos e pel´O Rumo do Fumo. Actualmente faz parte do colectivo da APNEIA COLECTIVA.

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