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Música
Concertos

Elvin Brandhi & Nadah El Shazly ‘Pollution Opera’

sex31.03.2322:00
Galeria Zé dos Bois


Elvin Brandhi
Nadah El Shazly ©Malak El Sawi

A reimaginação de símbolos tradicionais aporta sempre um diálogo incessante entre tempo e forma. Mais que a simples tentativa de resgate, existe um sentimento em aplicar uma certa visão e até pertença pessoal, como se de uma assinatura se tratasse. Nadah El Shazly tem nos últimos anos vindo a deixar essa assinatura em discos, colaborações, bandas-sonoras e outras peças audio-visuais. Reimagina Cairo, neste agora, como ninguém. Levando a herança musical da metrópole a um complexo tratamento sónico entre máquinas, instrumentos e uma voz serpenteante, brinda-nos autênticos artefactos híbridos.

No seu trabalho gravitam traços deixados pelo mago da eletrónica Halim El-Dabh ou sincronicidades com contemporâneos como YUNIS, porém, a entrega emocional (espiritual, talvez?) distancia-a dos demais. Ahwar foi o álbum que detonou o postal convencional e trouxe consigo novas e fascinantes imagens. O passado da artista ligado ao circuito punk local, permitiu-a extrair muito com pouco, enquanto chamava a si outros músicos em semelhante sintonia. Alma jazzística ou expressionismo livre, Nadah cria tão simplesmente sub-mundos e exo-planetas cujas naturezas difícilmente poderão ser confrontadas sem curiosidade.

Noutro quadrante, mas em perfeita sintonia, a britânica Elvin Brandhi tem sido um genuíno sismo de frequências sonoras. Ao lado seu pai formou os Yeah You, proposta visceral de alguma da mais inusitada eletrónica industrial de múltiplas fusões e mutações. Seguiram-se projectos em conjunto com Daniel Blumberg ou CANVAS, sempre pertinentes e almejando o surrealismo possível. A solo, Brandhi continua a esgravatar as barreiras do noise, techno e demais terrenos inóspitos – e propícios – para a improvisação livre. Purga e cura andam de mãos dadas nos campos magnéticos que a artista gaulesa cria. Ambientes esotéricos, futuristas, numa infusão de ritmos, samples e som bruto em forma de vórtex.

Após a apresentação individual de cada artista, ambas regressam ao palco para uma rara e surpreendente colaboração. Encontro de gigantes num momento provavelmente irrepetível. NA

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