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Endless Boogie ⟡ Asimov

qua01.05.1322:00
Galeria Zé dos Bois


Endless Boogie
Asimov

Endless Boogie

Retro é uma das palavras mais temidas pelos músicos. Pode não ameaçar as contas bancárias ou os índices de popularidade, mas nenhum gosta de a ver colada às (suas) canções. Cheira a naftalina, habita revistas pardas, parece coisa embalsamada. Na verdade retro tem outros sentidos, bem mais concretos: significa tão-somente falta de jeito, dificuldade em lidar com os cânones da música popular, não saber dançar com o passado. Resumindo, fazer homenagens que se repetem em loop. No caso do rock, a insinuação é frequentemente justa. Não faltam discípulos, seguidores, fiéis que papagueiam o que outros disseram com maior eloquência e confiança. A matéria-prima, já se sabe, carrega com o peso de uma história secular e de um público conservador, mas daí vem o seu fascínio. Como lhe acrescentar algum mistério sem soar diletante? Como despertar genuinamente o monstro para mais uma festa? Os Endless Boogie sabem como ou pelo menos descobriam uma forma de o fazer. O método é simples e assinala um dom raro: intensificar com a ferocidade e altivez as formas que marcaram a história do rock: acordes simples, temas longos, solos, batidas robustas e elegantes. Enfim, musica eriçada em torno do culto da guitarra. Admita-se, nesta descrição ressoam estereótipos pouco edificantes. Acontece que os Endless Boogie, liderados pelo xamã Paul Major e agora com a colaboração de fabuloso Matt Sweeney, são imunes a qualquer troça ou insinuação menos séria. Dignos artesãos do rock que adoram, com convicção, o que fazem. E isso liberta-os, e a quem os ouve, de qualquer nostalgia. E quem os ouve, apenas uma vez, já não consegue recuar ou escapar. A turba eléctrica torna-se irresistível, soprando aos ouvidos dos felizes incautos várias palavras: Stooges, Birthday Party, Spacemen 3, David Briggs, Free, Deep Purple, Coloured Balls e até Tom Waits. São fragmentos mas, aos poucos, vão-se colando para formar apenas um nome: Endless Boogie. A celebração começa então. Não há tempo de olhar para atrás. Vai ser assim esta noite. JM

Asimov

Nome indissociável da peregrinação ao altar do rock pelos caminhos do psicadelismo e trilhos poeirentos, Carlos Ferreira é desde à vários anos um dos seus devotos mais fervorosos e apaixonados. Com a experiência amealhada em diversos projectos meritórios como os Brainwashed by Amalia, tem sido a entidade Asimov – que a solo se ramifica na versão acústica de Folkways – em duo com João Arsénio o veículo para viagens com tanto de telúrico como de estratosferico. Power duo assente no fuzz incandescente da guitarra e no stompimparável da bateria, sobre as quais se eleva uma voz ao abandono, deixam-se levar pela estrada sem fim dos Steppenwolf para descolar em direcção ao cosmos dos Hawkwind em versão redux. Pelo caminho, alinham diversos pontos de passagem obrigatória da história do rock, onde a sujeira de Detroit se liga ao boogie da confederação, com pit stops pelo Krautrock mais feérico e algumas obscuridades inglesas nascidas à sombra dos Cream. Um jogo de referencias quase casual, em que a reverência ao record diggin‘ não é tanto a compulsão do coleccionador, mas sim a obsessão pela música sem data definida.
Com o álbum Overseas prestes a rebentar – em todos os sentidos da palavra – os Asimov chegam à ZDB num momento chave e com a companhia de almas gémeas. BS

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