As reverberações de Kingston, cidade maior da Jamaica, continuam suscitar memórias, fantasias e projecções futuras. Parece que por mais documentada que a sua música possa ser, sobram sempre trajectórias inovadoras. Pela electrónica, num sentido mais lato, têm sido várias as indagações sobre essa essência híbrida. Pole, Deadbeat, The Bug ou Mark Ernestus tratam de explorar as portas entreabertas do dub, abrilhantando-o de novas roupagens e papéis improváveis.
Gavin “Gavsborg” Blair e Jordan “Time Cow” Chung, ao contrário dos nomes anteriores, podem puxar dos galões como sendo dois jamaicanos de raíz cuja vivência se fez, lado a lado, com a cultura e herança locais. Os dois produtores são hoje em dia um dos epicentros criativos da ilha. A identidade comum Equiknoxx nasceu de ambos, embora trate-se de um resultado ongoing de um trabalho em colectivo com outros artistas. Esta ideia de comunidade não só é importante para o flow de ideias e sons sem limites da banda, como também preserva um sentido de presença de rua, intrínseca aos soundsystems e convivência social. Enquanto geração desperta e sintonizada no espectro global, o duo encontra-se no desenvolvimento de algo a que nos poderíamos referir de dancehall digital.
“Cólon Man” entrou sem pedir licença para muitas das listas de melhores discos de 2017. Surgiu como um esperado disco de apresentação, após edições em formato de curta duração que desde logo apelavam por mais. Curiosamente veio pela mão de outro celebrado duo, perito em perfeito alquimias, chamado Demdike Stare, através da sua editora DDS. O negrume no tom e as visões triangulares, e até futuristas que os unem, torna-se numa benção inevitável. Os treze temas do álbum movem-se num pântano bass, onde a forma abstracta e o sabor do mistério deixam evaporar estranhas imagens tropicais. Riddim demoníaco, aberto a samples e sons do mundano, como quem se entranha em cada esquina e beco da urbe. Definitivamente o eco que sai de “Cólon Man” reivindica mais cidade do que floresta, mais paranóia do que paz, e no entanto, mais aventura do que alguma vez imaginado.
A natureza destas (des)composições regem-se por incidentes rítmicos e meta-melodias dispostos num estimulante puzzle. Escutar o álbum é escutá-lo num todo, absorvendo os seus escapes sónicos e também encontrar uma alma orgânica entre a experimentação de laptop. Nessa linha, a colaboradora, de estúdio e de palco, Shanique Marie é a voz que emana como uma cor na tela instrumental dos Equiknoxx. Dificilmente virão a ser uma banda de canções, mas existe terreno se assim desejarem.
Dito isto, é com enorme felicidade que se estreiam no aquário da ZDB, oferecendo música verdadeiramente digna deste século XXI. NA