Quando estamos num quarto escuro temos tendência para abrir mais os olhos, estender as pontas dos dedos e abrandar o movimento. Não temos a certeza das distâncias do nosso corpo aos objectos. Falta-nos a visão, o grande critério de organização espacial do mundo. Estamos habituados a um olhar claro e desimpedido e ainda trazemos da infância e de uma herança cristã uma desconfiança relativamente ao escuro. Eu gosto de pensar no escuro do mesmo modo que os Egípcios pensam no preto, um lugar fecundo, fértil, onde ainda tudo está por acontecer. E vai acontecer.
Para além do conforto que a luz nos dá, a exposição é uma prática comum: enviamos e recebemos repetidamente mais informação do que a que conseguimos captar, como se existisse uma correspondência proporcional entre informação e existência. Somos igualmente incentivados a assumirmos posições de vulnerabilidade, acreditando que, se expusermos os nossos fantasmas e as nossas fragilidades, vamos ser felizes. Mas, se me demorar numa coisa, consigo ver-lhe o fundo. Talvez por isso continuem a olhar-me como esfinge indecifrável e a mim, tanto se me dá.
Se me puser numa zona escura apresento-me um estado de dúbio, de difícil leitura, e imagino que possa causar alguma estranheza ou desconforto a um alguém. Forneço informação sobre as posições relativas das partes do corpo durante um movimento e as suas correspondentes tensões musculares mas o movimento não é todo ele visível. Escolho uma subexposição, em vez de uma exposição de escolhas, para tornar a leitura de certa zona mais clara, e não esconder alguma coisa. Entramos, assim, no jogo da percepção e da descoberta. No campo da matemática e da geometria, mas também no campo das sensações e dos sentidos.