“O percurso de Maria Lusitano é incomum. Chegada tardiamente aos estudos de arte, após ter terminado o curso de medicina, a artista completou em simultâneo os planos de estudo das escolas Ar.Co e Maumaus.
Profuso, o seu trabalho divide-se por vários suportes e linguagens, oscilando sem contradição e sem peso entre ficção e documentário, metáfora e parábola, inocência e perversidade, poesia e ironia. O vídeo e a fotografia frequentemente associados, não sendo os únicos meios de expressão de Maria Lusitano, são no entanto, no interior do seu trabalho, as ferramentas mais operativas em termos de reflexão sobre as coisas do mundo e a linguagem em torno delas.
Fortemente marcados por uma consciência geracional – no sentido em que é a partir da sua experiência vivencial que Maria Lusitano estabelece uma reflexão sobre as suas origens – os seus filmes são narrativos onde se vai definindo com crescente destreza um peculiar sentido de montagem, em que as imagens (em movimento ou não) e o som se sucedem ou se fundem a partir de afeições cromáticas e semânticas, tendo como único e vasto plano de fundo um tempo histórico cujo ponto culminante coincide com o seu nascimento (…) Assim, Maria Lusitano elegeu a apropriação como método de trabalho, neste caso, para ser mais preciso, a apropriação de memória, cruzando-se e sobrepondo-se no seu trabalho experiência individual e experiência colectiva.”
– Nuno Faria
