Foi uma torrente imparável e (insuportável) nos últimos cinco, seis anos. Serenada a agressão do noise, assistiu-se ao regresso de uma pop esguia e lustrosa, expressas nos sons dos teclados e encimada por vozes histriónicas ou misteriosas. Sim, é verdade, os malditos anos 1980 não se iam embora e a cada revisitação, mais ou menos sincera, só apetecia gritar: retro! Mas nem tudo foi em vão. Poucos, mas bons, alguns nomes sobressaíram ao ponto de exigirem mais e melhores ouvidos. Os Fabulous Diamonds (Nisa Venerosa + Jarrod Zlatic) começaram muito cedo a reivindicar esse cuidado, com dois discos incríveis (Fabulous Diamonds I e Fabulous Diamonds II). Música simples, artesanal (teclados, percussão, voz), mas extremamente densa, física. Sentia-se no corpo e não apenas na mente: sensual e altiva, mas sempre alerta. O trabalho do duo explicava muita coisa: a voz de Venerosa não receava subir a outras alturas, as melodias transformam-se em ruído para voltarem a ser melodias, a percussão, nunca marcial, ligava a música a uma realidade chã; não servia de adereço ou tímida evocação de um ritmo. Esta ligação dos Fabulous Diamonds ao ritmo e, já agora, ao ruido (dos teclados não saem coisas pomposas ou delicodoces, mas farpas verdadeiros riffs) tornou-se mais intensa com Commercial Music, álbum do ano passado, que ao desvelar genealogias violentas, confirma e fundamenta a relação que o duo foi impondo a quem o escutava: se os Fabulous Diamonds têm antepassados directos, eles chamam-se Jefferson Airplane, Shocking Blue, Suicide, Silver Apples, Catherine Ribeiro, Tangerine Dream, This Heat ou Roxy Music. Lista imensa e inacessível, terrível e porventura dispensável name-dropping. Mas são as histórias que estes nomes escreveram que contaminam a música de Nisa Venerosa e Jarrod Zlatic. Melhor, são essas histórias que constituem a matéria-prima de ainda uma curta mas soberana carreira. E não, não apetece gritar: retro! Ouve-se “Uphill” ou “Wandering Eye” (os temas finais de Commercial Music) e só apetece celebrar: bravo! Antes, o duo lisboeta Yong Yong (Rodolfo Brito e Francisco Silva), cultor de uma entusiasmante psicotrópica electrónica caseira, apresenta ‘Love’, cassette editada pela britânica Night School. JM