A uns poucos meses do retiro, o artista anteriormente conhecido por B Fachada cumpriu no Olga Cadaval, de Sintra, uma daquelas noites mágicas que as televisões estavam obrigadas a registar para, mais tarde, exibirem nos feriados. Esse país de grande porte mediático, mesmo assim, não apareceu, até porque nunca teve pedalada para correr ao lado da alucinante progressão de Fachada, mas estava lá o mais importante: um fortíssimo conjunto de canções amadurecidas pelo tempo e rodagem, além de bem afiadas por quem delas precisou para abrir caminho, num cenário que muito mais premeia um passo vagaroso bem gerido e burlado.
Lançado muito discretamente dois dias após o Natal de 2012, O Fim acabava por ser um novo disco de reflexão (tal com o homónimo lilás), com espaço para o colorido de ânimos que faz de Fachada quem ele é na música: uma figura tão dinâmica que é capaz de se reinventar não só de álbum para álbum como também entre faixas. Nos seis temas d’O Fim encontrávamos ternura, mágoa, beef, graça, desabafo e depois um barquinho de papel destinado a ir ao fundo ou então não. Se o fim anunciado representava afinal um “até mais tarde”, então essa até era uma trafulhice a que Fachada tinha direito, enquanto rei e senhor de uma narrativa que evoluiu sempre ao seu ritmo. Além disso, O Fim, muito à semelhança do Black Album, de Jay-Z, nunca aproveita o pretexto da despedida para ser frouxo ou desleixado. O que acontece é precisamente o contrário, e canções como “Mana” e “Boa Nova” encontram Fachada tão inspirado e irrequieto, como se estivesse de partida para uma segunda empreitada de discos tremendos.
O lugar para onde se encaminhava o Fachada, que desaparece na escuridão decepcionada d’ O Fim, pode ou não ser aquele que vamos encontrar na Zé dos Bois, no próximo dia 8 de Maio. Mas é bastante saudável que todas as hipóteses estejam de novo abertas ao mesmo tipo de incertezas que excitavam a Björk, em “Possibly Maybe”. Bem longe da Islândia também nós sentimos uma ansiedade invulgar nestas semanas que antecedem a apresentação de novas canções. Já lá vão demasiados meses, desde que os ouvidos tocaram em carne fresca, e ninguém acredita que um dos nossos mais bravos compositores tenha passado todo esse tempo de braços cruzados. Cai o B e ergue-se um renovado Fachada. Chegados à última linha, é difícil optar entre “ufa”, “viva” ou “cum caralho”. MA