Um dos momentos chave do Rama em Flor acontece no sábado, dia 30 de junho, na Trienal de Arquitectura de Lisboa com a Festa de Encerramento, em parceria com a Galeria Zé dos Bois e com a BRAVE.
Festa de encerramento do Rama em Flor na Trienal de Arquitectura
The Raincoats
As Raincoats de Ana da Silva e Gina Birch pertencem, muito justamente, ao plano das lendas de culto: nasceram no olho do furacão punk, juntaram-se cedo à utopia socialista traduzida em discos chamada Rough Trade, lançaram o seu homónimo álbum de estreia ao mesmo tempo que Margaret Thatcher chegou ao poder, trabalharam com Charles Hayward e Robert Wyatt e conquistaram a natural admiração de Johnny Lydon, de Kurt Cobain e dos Sonic Youth. E tudo isto quase sem que o mundo se tenha apercebido da sua existência.
Anti-heroínas da condição feminina, as Raincoats que no seu arranque contaram ainda com os préstimos de Palmolive, baterista dissidente das Slits, influenciaram todas as riot girls do planeta simplesmente por terem desafiado o que os tempos lhes quiseram impor. “Ser mulher”, argumentava Ana da Silva num manifesto dado á estampa em 1980, “é tanto sentir no feminino e expressar no feminino quanto (pelo menos para já) reagir contra o que se diz que uma mulher deve ser. Esta contradição cria caos nas nossas vidas e se queremos ser reais, temos que descurar o que nos foi imposto, temos que criar as nossas vidas de uma nova maneira”.
Simon Reynolds, nas páginas de Rip It Up and Start Again, o mural definitivo do pós-punk explicava que “a forma encontrada pelas Raincoats para ultrapassar a pressão de serem femininas passou por terem uma aparência vulgar, adoptando um visual desmazelado que passaria despercebido em qualquer banda masculina da mesma época. Mas tal gesto vindo de mulheres, no entanto, assumia uma dimensão radical, uma estridente recusa do glamour”. Essa “estridência” rendeu quatro álbuns editados entre 1979 e 1996, incluindo o homónimo registo de estreia que acaba de merecer honras de atenção na aplaudida série de livros da Bloomsbury 33 1/3 . O livro dedicado a The Raincoats é assinado pela jornalista norte-americana Jenn Pelly (colaboradora de publicações como a Rolling Stone ou o New York Times) que começa por se questionar sobre “quem é que fica para a história e porquê?” antes de se atirar à fascinante saga de quatro mulheres que criaram uma obra de tal força que um dia – já os anos 90 iam lançados e as Raincoats acreditavam serem elas mesmas coisa do passado – um rapaz louro foi ter com Ana da Silva à loja de antiguidades em que trabalhava, na zona de Notting Hill: “na altura”, explicou a guitarrista em declarações recentes à revista Blitz, “eu não fazia ideia de quem era o Kurt Cobain ou os Nirvana. Vivia noutro mundo, nunca tinha ouvido falar neles…”
Felizmente, o tempo permitiu que o mundo acordasse e as Raincoats viram-se elevadas à condição de musas inspiradoras de mulheres e homens que não se conformam com as regras, que vêem guitarras e violinos, baterias e microfones como ferramentas de uma urgente expressão e que entendem que o ruído pode ser outra medida para a beleza.
Looking in The Shadows, lançado em 1996 pela Rough Trade em Inglaterra e pela Geffen nos Estados Unidos, foi a derradeira consequência do tardio reconhecimento do talento que originalmente tinha rendido um trio de álbuns hoje encarados como clássicos: The Raincoats (1979), Odyshape (1981) e Moving (1984) são autênticos hinos de liberdade, de afirmação de uma condição feminina progressista, de imaginação e superação, de quebra de barreiras e de preconceitos. Em 2009, Gina Birch confessava a Maddy Costa do Guardian que depois de ter visto Yoko Ono em palco aos 76 anos se sentiu capaz de fazer isto “por mais 20 anos”: “damo-nos bem, somos mulheres, não era suposto estarmos aqui, mas estamos. Quero ter mais 20 anos!” E cá estão elas, em 2018, ainda com fome de futuro. RMA
Deena Abdelwahed
Depois de marcar presença na primeira edição do Rama em Flor em 2016 com um live experimental, o trabalho da produtora tunisina Deena Abdelwahed, radicada em Toulouse, tornou-se uma referência internacional para a dance music. Nos últimos dois anos, tocou e participou em eventos como o Rewire Festival, o CTM, o Villette Sonique, o Sonar, o Atlas Electronic, entre outros. O seu álbum de 2017, Klabb, com as suas mutações de protesto cultural da Tunísia e hinos surreais, entrelaçando ritmos mecânicos, agudos nebulosos e graves profundos – além da sua série de mixtapes e remixes – dá-nos um vislumbre do que esperar do tão aguardado regresso desta artista a Portugal. Uma tapeçaria intrinsecamente tecida com noções sonoras que conduzem a concepções de género e nacionalidade, num futuro pós-oriental, pós-bullshit e pronto para um futuro aos solavancos.
Caroline Lethô
Uma das compositoras e DJs mais inovadoras da cena de dance music de vanguarda que opera em Lisboa, Caroline Lethô representa para muitos uma mudança de paradigma na cidade. As suas produções para editoras independentes e colectivos, como AVNL, Labareda e Extended Records, bem como o seu programa mensal da Rádio Quântica, revelam o seu amor pela experimentação e uma crescente confiança para romper as fronteiras estabelecidas. Tendo tocado em algumas das principais discotecas, festas e festivais de Portugal, além de realizar os seus próprios projetos criativos, Lethô foi uma das selecionadas para representar Portugal na edição de 2018 da reconhecida Red Bull Music Academy, em Berlim. Antes disso, fará uma apresentação ao vivo no Rama em Flor com o seu inebriante e intransigente novo trabalho eletrónico.
Vaiapraia e as Rainhas do Baile
Trio punk empenhado em criar imagens poéticas através de canções pop sinceras e imediatas. O disco debutante 1755 é fruto de um trabalho de simbiose em banda, que mereceu uma festa de lançamento esgotada na ZDB e destaque em publicações como o Público, a Time Out ou a Blitz. Esta é uma música que por vezes nos anima e apela à acção, e por outras nos leva no caminho errante do desejo. Para além da lírica explícita e honesta a que alguns alinham com a tendência musical a que se dá o nome de queercore, o trabalho do trio extravasa essa categoria adoptando, por exemplo, tanto a energia do garage rock, como a da pop de pastilha elástica.
Intera
O colectivo de produtores de música electrónica Intera, traz à festa de encerramento do RAMA EM FLOR uma banda sonora intermitente, inclusiva e diversificada, entre concertos. Como grupo que trabalha para criar um espaço seguro para projectos colaborativos entre diferentes gerações e formas de arte, INTERA é um convite à liberdade musical (e muito mais), afastado de rótulos ou julgamentos, e envolvendo alguns dos talentos mais originais da noite de Lisboa. A sua abordagem ao som e statement cultural transmite um sentido de liberdade na era da saturação.
Candy Diaz
Candy Diaz (aka Ana Farinha) é a co-autora do programa “Floresta Encantada” na rádio SBSR e também ex Les Baton Rouge e Women Non Stop. Apresenta um set que explora o universo das The Raincoats, sob influência da Punk fervilhante e hiperactiva dos X-Ray Spex, o dub atmosférico das New Age Steppers e um sem número de referências que serão o pretexto ideal para o início da nossa festa.
Entrada
pré-venda: 20€